2/27/2013

A Questão da Auto-edição

 
Fonte: Scot's Blog

 Até há alguns anos, um escritor necessitava de passar pelo crivo de um editor para ver, ou não, a sua obra publicada. Se tinha posses suficientes podia fazer uma edição de autor e vender entre os amigos ou, com alguma sorte, ter o seu livro disponível em alguns espaços comerciais locais. Hoje, com o e-book e o aparecimento de diversos sites de auto edição digital, tudo mudou. Pelo menos assim parece, à primeira vista.

Qualquer pessoa que goste de escrever tem atualmente diversas ferramentas disponíveis para ver a sua obra publicada e disponível em sítios de venda de e-books, sem ter de passar pelo juízo de um editor. É o escritor que trata de tudo – da revisão, da edição, da capa, da definição do preço, etc. Na maior parte destes sites a publicação é totalmente gratuita, estabelece-se apenas um contrato de comercialização da obra digital, em que se fixa o pagamento de uma percentagem das vendas ao autor, como acontece com as editoras tradicionais. Contudo, estão a surgir novos serviços para quem deseja que a sua obra chegue às prateleiras virtuais dos leitores com qualidade atestada, e que dão um novo sentido àquilo que as editoras podem oferecer a todos aqueles que não conseguiram ou não quiseram que a sua obra passasse pelo escrutínio de um editor.

O novo site da Leya, lançado recentemente, escrytos.com, não oferece apenas a possibilidade de o escritor publicar gratuitamente a sua obra e tê-la disponível em múltiplos sítios de venda de e-books, como oferece diversos serviços, mediante o pagamento de um valor. Um desses serviços é uma recensão crítica, com os devidos apontamentos sobre aspetos a melhorar no texto. Será certamente interessante verificar como esse trabalho é feito e qual a influência que a apreciação encomendada terá na decisão do escritor em prosseguir ou não com a auto edição da sua obra. Uma outra curiosidade prender-se-á com a utilização do serviço de revisão do texto – quantas pessoas irão recorrer a ele contra o número de pessoas que não utilizarão qualquer tipo de serviço que possa ajudar a valorizar o seu texto. O próximo passo será talvez pensar-se em termos de globalização. Seria interessante oferecer, entre estes novos serviços, o de tradução de originais em português para inglês.

Todavia, esta generalização da auto edição resulta num paradigma interessante que merece ser explorado. Na verdade, apesar de o e-book de um escritor auto publicado poder estar disponível em múltiplos sítios isso não quer dizer necessariamente que a sua visibilidade será maior. O risco de se diluir entre as dezenas de milhares de obras auto publicadas é muito grande e quase certo. O alcance será mais ao nível íntimo, entre família, amigos, colegas de trabalho e conhecidos, tal como uma edição de autor tradicional. Portanto, apesar de agora ser possível editar um livro sem pagar, e de o meio e o suporte serem digitais permitindo uma abrangência de mercados muito maior, a edição de autor na sua génese pouco ou nada se altera, tendo em conta que faltará sempre a capacidade e o know-how de uma editora na promoção e divulgação do livro junto do público geral, apesar de mesmo isso não ser de todo um garante de sucesso.

Tal situação é todavia prevista no site escrytos.com que entre os seus serviços disponibiliza ainda o de divulgação e promoção, em que os recursos de uma editora são utilizados para promover a obra junto da imprensa e dos leitores. Isto poderá conduzir o aspirante a autor à crença de que pagando por esse serviço o sucesso do seu e-book estará assegurado. Na verdade é algo imprevisível, como o é nos casos de livros publicados por via tradicional, mesmo aqueles que fizeram sucesso no estrangeiro.

No final das contas, o essencial para o sucesso comercial de um livro ainda é, sem sombra de dúvida, o «boca a boca», com ou sem a ajuda de uma boa estratégia de comunicação.

Vemos pois uma massificação da auto edição e o surgimento de novos serviços oferecidos pelas editoras que aproveitam a adesão de muitos amantes da escrita a estas novas formas de edição independente de autor para ampliar o seu campo de ação, otimizando os recursos e o know-how de que já dispõem.

Catarina Araújo
Escritora e Assessora de Comunicação

4 comentários:

  1. É verdade que "a edição de autor na sua génese pouco ou nada se altera". Casos como "As Sombras de Grey", que começou, precisamente, pela auto-publicação digital, representam a exceção à regra.
    Mas não sei se concordo com: "o essencial para o sucesso comercial de um livro ainda é, sem sombra de dúvida, o «boca a boca»". Penso que o marketing (aliado a um nome conhecido) ainda é o que funciona melhor. Senão, como explicar que livros esgotem no próprio dia em que são lançados, ou que vão, de imediato, para o primeiro lugar das listas, ainda antes de o público os ter lido?

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  2. Sim, de facto, há sempre exceções à regra. Se formos a ver será um em um milhão, o que não deve de todo deter a ambição de um escritor de chegar a muitos leitores, como é natural.
    Quanto ao marketing, pode ser muito bom, pode haver uma estratégia muito boa, mas só vai ser eficaz se os primeiros leitores concordarem que o livro é mesmo muito bom e começarem a divulgá-lo entre si. Portanto qualquer que seja a estratégia de marketing, nunca cumprirá o seu objetivo se o «boca a boca» não fizer o resto. Já se gastaram muitos milhões em campanhas de marketing que morreram na praia, porque os leitores não se deixaram convencer.

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  3. Concordo com a Catarina. Não há marketing que sempre dure, sem bem que nos apraze.

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  4. Sim, mas pelo que percebi, para que o «boca a boca» se instale, tem de haver, primeiro, a campanha publicitária, caso contrário, ninguém dá pelo livro.

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