11/30/2012

Editor em tempos de mudança

Fonte: Salon.com


Na sequência do post do João Carlos Alvim, resolvi dar a minha própria visão do assunto; em larga medida suscitada também pela «conversa» entre José Afonso Furtado e Gustavo Cardoso, na terça-feira passada.

Não haja dúvida, os tempos mudaram, a nossa vida é digital.
Vivemos num mundo onde tudo se regista e todos os nossos atos são informação a ser tratada, trabalhada e utilizada; um mundo onde a verdade é consumer driven, tanto nas hierarquias e temáticas, como nas visões e nível de desenvolvimento. Por outras palavras, não conseguimos acompanhar a mudança tecnológica operada pelo mundo digital, tendo esta destruído o sistema de mediação existente, e ainda nada surgiu para o substituir: andamos à deriva.

Não sabemos o que nos jornais é verdade ou importante (a própria função do jornalista deixou de ser de mediação, para ser de replicação ou criação de informação, com o objetivo de se construírem produtos adequados às necessidades financeiras – de angariação de públicos e de publicidade), o que no Facebook é mentira, idiotice ou equívoco, o que nos livros é pertinente ou de qualidade. Na falta de mediadores capazes e vocacionados para o mundo digital, surgem os «gurus» da opinião pública (os famosos opinion makers, com ideias sobre tudo e mais alguma coisa), vulgarizando o conhecimento numa versão de Wikipédia humana.

O editor, elemento histórico de mediação entre os milhares de conteúdos existentes e o público, deixa cada vez mais de o ser: só nos EUA 50% das publicações são publish on demand e, mesmo entre os restantes livros (edição comercial), a quase totalidade da produção não depende da mediação de qualidade ou de pertinência, de ética ou responsabilidade, mas da avaliação mercadológica da obra. «Adequação» passou a ser um termo demasiado utilizado para explicar esta potenciação das desigualdades de conhecimento e esta desresponsabilização sobre a pertinência das coisas na sociedade. Adequação ao público: se ele quer lixo, é lixo o que se lhe dá; adequação aos parceiros comerciais: prioridade ao aumento das rentabilidades, através do reforço de premissas como a velocidade e o volume das vendas, bem como outros fatores potenciadores (estratégias de preço baixo, campanhas, star system e obras de elevada plataforma de acesso a público) ou contribuintes diretos dos resultados financeiros (venda de espaços, participação em catálogos, etc.), pois são empresas e o «adequado» para uma empresa é ganhar dinheiro, e não ajudar a sociedade.

Já não é possível saber onde está nem como aceder à qualidade (na definição social de livro de qualidade como objeto pertinente, fidedigno, consistente, eticamente responsável e com benefícios para o aumento do conhecimento e da cidadania) por falta de interesse de todas as partes, pelo excesso de informação, pela maior pertinência de premissas económicas de triagem, pela alteração da política de acessos aos canais e de validação dos conteúdos.

O livro, antes o objeto referencial − aquele que era feito para refletir, para analisar − perde para o público atual a sua função, transforma-se na próxima vítima da mudança digital. Não é o «livro digital» que irá destruir «os livros», é a incapacidade de percebermos que sociedade queremos e qual o seu papel.

É hoje mais importante saber que se «pode aceder a qualquer momento» à verdade com uma ida ao Facebook ou à Wikipédia, do que ler de facto os artigos, livros e enciclopédias (maioritariamente online), pensados e analisados, construídos com interação de múltiplas fontes e cuidados éticos definidos.

Tal como se vê a morte dos jornalistas ou dos bibliotecários, os outros mediadores como os editores (e posteriormente até os professores e os educadores) arriscam-se a perder a sua função no mundo nesta fase de mudança e confusão. E já faltou mais para se começar a ponderar na necessidade real de educação formal, pelo menos da base humanista dessa formação.

Neste mundo em mudança os agentes esquecem-se de que as humanidades são a principal ferramenta que temos para pensar (a língua, história, geografia, filosofia, etc., são a raiz da estruturação mental, da interpretação do mundo e da lógica de construção e de atuação nele, tal como a matemática o é para as engenharias). Não saber relacionar, não ter referências históricas, geográficas ou de enquadramento de pensamento é incapacitar os nossos jovens até para a mais simples das ações relacionais (para saber mais ler Marshall McLuhan). Aquilo que para nós é um dado adquirido, para muitos novos públicos é uma incógnita e até o uso do Google para algo diferente daquilo que estão habituados (procurar música, séries, famosos, etc.) poderá ser como uma viagem na selva para um miúdo da cidade (ler também este artigo sobre a forma como o Google transforma a nossa atividade cognitiva).

Mas a necessidade de mediadores nunca foi tão grande. Cabe só aos mesmos mediadores, entre eles os editores, voltarem a provar ao mundo o porquê da sua existência e não demitirem-se da sua função; antes de passarem a ser obsoletos; antes de os livros passarem a ser escolhidos por um gráfico Excel e os textos trabalhados por um qualquer Google editor ou translator.

Nuno Seabra Lopes

11/29/2012

Protagonistas da Edição


A Booktailors – consultores editoriais acaba de apresentar o primeiro volume da coleção «Protagonistas da Edição», com lançamento marcado para a próxima quarta-feira, dia 5, pelas 18h30 na Casa Fernando Pessoa (Lisboa).

O primeiro protagonista é Fernando Guedes, um dos fundadores e histórico editor da Editorial Verbo, e o mais preponderante editor da história portuguesa recente. Da sua história realça-se ter sido várias vezes presidente do Grémio e da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, assim como Presidente da Federação Editores Europeus e da União Internacional de Editores, entre várias outras funções de relevo.

Inúmeras vezes agraciado e autor de obras próprias no campo da poesia, arte, história, edição e memória, foi agora entrevistado pela crítica literária Sara Figueiredo Costa.

A apresentação estará a cargo de outro editor histórico, Francisco Espadinha, fundador e editor da Editorial Presença.

11/28/2012

Dia das Livrarias

É já na sexta-feira, dia 30 de Novembro, que se comemora o Dia das Livrarias.

Este ano o movimento Encontro Livreiro associou-se à Fundação José Saramago para, à semelhança de Espanha, celebrarem o dia.

Todos os livreiros que se queiram associar por favor sigam este link.

Thank God it’s Christmas’

O ano está a terminar e dezembro chega.

Com dezembro chega a família, os bolos, a lareira e... os presentes. De entre todos os membros da família, os únicos que não percebem a crise são as crianças, pelo que elas deverão ser sempre os beneficiários incólumes das vantagens de Natal. São vários os brinquedos disponíveis e, mais ainda, os livros ilustrados ou táteis, sonoros ou olfativos. Falam de estrelas, dinossáurios, princesas e melancias. São os livros infantis.

A partir de segunda-feira, dia 3 de dezembro, e todos os dias, o Edição Especial entra em época natalícia. Ou seja, também pensa nos mais novos e, até ao Natal, só se falará de livros infantis.

Mas não se julgue que se irá falar somente de números: já basta sabermos que os mais de 35 milhões que representam este mercado (infantil e juvenil) já não são o que eram e que as quebras deste ano se aproximam dos 9,5%, por isso falaremos de coisas mais alegres. Falaremos de autores e ilustradores, de escrita e de leitores, e muito mais.

Falaremos de livros infantis e isso é tão bom.

Para abrir (terça e quarta-feira) a palavra aos autores: Luísa Ducla Soares e Alice Vieira.
Contamos também convosco.

11/26/2012

“Uma Cultura da Informação para o Universo Digital”, de José Afonso Furtado


Quem não teve oportunidade de estar presente no lançamento da obra “Uma Cultura da
Informação para o Universo Digital”, de José Afonso Furtado, poderá, amanhã, terça-feira, pelas 19h00, na livraria Almedina Saldanha (Lisboa), assistir a um debate subordinado ao tema entre José Afonso Furtado e o sociólogo Gustavo Cardoso (Professor do ISCTE – IUL).

11/23/2012

Como vejo a função de editor de ficção



Não sendo editor de ficção, estive sempre no lugar de poder trabalhar com alguns (raros, em Portugal), de vê-los em ação e a discutirem a sua função. Ao longo dessas discussões, fiquei com a minha própria ideia do que é fazer editing a um texto ficcional.

Na edição de ficção, os pressupostos da receção são, para mim, essenciais para o bom editing de um livro. Tratando-se de ficção, a quase totalidade das vezes pode incluir-se num género (ex. terror, fantasia, ficção científica, romântico, policial, etc.), o que serve para identificar o texto e dar confiança ao leitor.

Sendo o livro um bem de experiência, não sabemos se iremos gostar de determinado livro antes de o lermos, e faremos as nossas escolhas de leitura na expectativa de que iremos encontrar no novo livro os pressupostos que o inseriram em determinado género (e nós, na categoria de leitores desse género), ou seja, num thriller iremos procurar tensão e ritmo, suspense e crime, velocidade de leitura e um final explosivo; em ficção científica, procuraremos um tema transversal e «universal» da humanidade tratado numa metáfora evasiva, tecnologias impressionantes, imaginação e criatividade adicional; num bildungsroman, procuraremos uma personagem credível e empática, ritmo lento e uma experiência identificável, por exemplo.

O que faz de nós leitores de um determinado género é o capital cultural (e social) acumulado, é o total das nossas experiências positivas e negativas (nomeadamente de leitura ou de usufruto de cultura), que nos molda e dá certezas de que determinado livro será apreciado por nós, pois é de um género/autor/tema que nos interessa.

Na escolha e na leitura, são assim essenciais as referenciações (pontos de reconhecimento) do género e é nesse campo que deve «operar» o editor.

Com isto não quero entrar no tema conturbado do que é ou não é literatura (pois a mesma pode existir ou não em todos os géneros ficcionais, como observamos nos policiais de Rubem Fonseca, ou na ficção científica de Ray Bradbury). Refiro-me apenas aos modelos utilizados pela escrita ficcional e que servem ao autor não só como veículo para a transmissão de algo que pretenda com o texto (reflexão, entretenimento, perceção de realidades, experiência sensorial, etc.), mas também de suporte para a construção deste veículo extenso (livro) necessário para alcançar os objetivos propostos.

O bom editor deverá ser, assim, quem percecione a sua função sob estas luzes, separando o suporte de escrita da verdadeira escrita (estilo próprio e ideias). Ele é tão-somente especialista em aperfeiçoar esse suporte e os seus elementos (ritmos, fidedignidade, inexatidões, erros de escrita, repetições, confusões, etc.) e não deverá imiscuir-se na escrita propriamente dita, alterando o estilo ou modificando (mesmo que, supostamente, para melhorar) as ideias existentes.

Perfeito será sempre o editor invisível, aquele que não altera aquilo que faz do autor o melhor especialista da sua obra, mas tem a capacidade de limpar o texto de todos os escolhos que só atrapalham a leitura.

Isso é o que eu penso, mas quem é de literatura sabe bem melhor do que eu e poderá, com certezas, discordar.

Nuno Seabra Lopes

11/21/2012

Análise de originais para possível publicação, uma filosofia e uma práxis


Não me passaria nunca pela cabeça apresentar senão a minha maneira de ver e fazer uma avaliação de original (ou obra em análise para possível publicação – entenda-se uma obra estrangeira a traduzir ou uma reedição de uma obra anteriormente disponível no nosso mercado, etc). Cada profissional, nas mais diversas áreas, entende e cumpre cada função de modo próprio e, numa tarefa como esta que envolve pensamento estratégico, ainda mais a perspectiva é, como deve ser, individual. Não pretendo de forma alguma apresentar qualquer tipo de abordagem normativa. Há editores que avaliam obras pela leitura da primeira linha e há outros que só o fazem analisando a a obra inteira de um autor minuciosamente. Os métodos diferem e nenhum deles garante o sucesso, da mesma forma como, em princípio, nenhum dita o seu fracasso.

Como em todas as tarefas que compõem o trabalho das ditas indústrias criativas, há sempre uma grande margem deixada ao instinto, instinto esse que pode ser mais ou menos sustentado pelas mais diversas experiências.

Acredito que cada um desenvolve o método que o deixa mais confortável perante a sua decisão. Da mesma forma como acredito que há quem tenha talento e quem não o tenha, como em tudo na vida.

O método de que falo a seguir é o que cumpro já há uns anos e vale o que vale. É o meu, tem sofrido alterações (espero que evoluções), tem aprendido e crescido.

1 – PRIMEIRO CONTACTO, APRESENTAÇÃO E ENVIO

Já o disse nas páginas deste blogue que acho da maior importância que os autores proponentes (e o mesmo vale para um agente de direitos) oriente a sua proposta em função da editora-alvo que selecciona.

Uma editora nacional com um pouco de nome recebe dezenas de originais por semana. Na Cavalo de ferro, editora da qual fui sócio fundador e editor e uma casa especializada em literatura em tradução, apesar de durante uma temporada termos tido um aviso bem claro no nosso site informando que não publicávamos autores de língua portuguesa, recebíamos dezenas de originais por semana. Isto na maior parte dos casos é um desperdício de dinheiro por parte dos candidatos a autores. Da mesma forma os grandes grupos editoriais recebem dezenas de originais de poesia por semana. Ora sabemos que a sua vocação editorial não é esta. E as pequenas editoras de nicho e grande grau de especialização recebem propostas de romances comerciais ou livros sobre dietas…

Um editor que recebe um original mal orientado percebe de imediato que, antes de qualquer outra coisa, está perante um autor que lê pouco (grande mal do nosso país de poetas onde muitos escrevem e poucos lêem). Isto desde logo é algo desmotivante. Um autor que seja um leitor saberá certamente quais as editoras que publicam o tipo de livros que ele escreveu. E sabe-o porque os leitores funcionam por afinidade. Outro problema com o facto de os autores proponentes lerem pouco revela-se muitas vezes pela noção claramente transmitida pelo texto relativa aos modelos ultrapassados (exemplificando: a grande maior parte dos originais de poesia ficou-se pela influência da Florbela Espanca como se nada mais tivesse surgido na literatura nacional e internacional desde essa altura). Claro que há sempre uma possibilidade muito reduzida de estarmos perante o génio: alguém que sem conhecimentos, sem uma cultura literária, consiga, ainda assim, apresentar uma obra magnífica. Essa é a excepção que confirma a regra. Nunca encontrei um caso assim.

Passando à frente e abordando agora a questão do primeiro contacto em termos de apresentação.

Convirá deixar claro que, nos tempos que correm e por motivos já atrás mencionados e debatidos neste blogue, os ritmos de trabalho na edição hodierna são exigentíssimos. Assim e por muito que eu possa perceber a importância que um autor atribui a vir pessoalmente apresentar a obra ao editor, essa abordagem resulta geralmente mal. O editor tem muito pouco tempo e provavelmente nem vai conseguir estar muito concentrado naquilo que está a ouvir. Acresce a isso que um autor com grande capacidade de comunicação não garante, de forma alguma, um autor com potencial editorial ou literário.

A edição em Portugal vive um momento de claro excesso de publicações pelo que a triagem tem de ser minuciosa. Isto influi sobre a forma de estar/ser de um editor, sobre o tempo que tem disponível (e que é muito pouco) e sobre a sua capacidade de atenção.

Há editoras que solicitam o envio de originais por e-mail. Mais uma vez o digo: cada um tem o seu método, mas não estou a ver um editor a analisar as dezenas de originais no seu monitor de computador ou a gastar dinheiro a imprimir os mesmos.

A forma tradicional, o envio do texto por correio, continua a ser a melhor. Eu continuo a gostar de ler em papel e dá-me muito mais jeito para escrever notas nas margens ou verso da folha.

Nota: autores, considerem que quando enviam um original para uma editora, dificilmente o verão ser devolvido. Como vos disse, uma editora recebe centenas de originais por mês. Os custos de devolução ou sequer a existência de um espaço físico onde possam ser guardados de forma organizada são geralmente incomportáveis com a realidade das editoras.

Quando um autor me contacta a perguntar qual a melhor forma de apresentar um original, peço o seu envio por correio. Costumo também pedir para não me enviarem o documento todo. Apenas umas 30 a 50 páginas, precedidas de uma sinopse e de um CV do autor.

Faço-o por vários motivos:

- A sinopse permite-me aferir da adequação da obra ao catálogo da editora onde trabalho. Nessa sinopse deve ser incluído igualmente o número total de páginas da obra.

- O facto de receber entre 30 a 50 páginas passa pelo facto de eu não acreditar que uma obra que não consiga prender/interessar ao leitor nas primeiras 30 a 50 páginas possa funcionar comercialmente. Mais adiante explicarei o que entendo por este “funcionar comercialmente”.

- O CV do autor dá-me pistas sobre a formação, influências e capacidades do autor. Não é, de forma alguma, um elemento decisivo ou decisor. É um instrumento de apoio.

Pequenas chamadas de atenção:

- Por muito que seja boa educação, evitem as cartas manuscritas de apresentação. Nós editores temos geralmente a vista cansada de ler.

- Não enviem textos impressos com corpo de letra 10 ou menor, sem linhas de separação e com uma mancha de texto visualmente agressiva.

- Não enviem textos impressos com tipos de letra originais e divertidos, Times New Roman, Garamond, Windsor, letras clássicas e de fácil leitura. Sobretudo nunca enviem textos impressos em Comic Sans.

- Se as obras incluem ilustrações, enviem um ou dois exemplos. Se o editor quiser ver mais, pedirá. Tenham a consciência que a impressão a cores é bastante dispendiosa e tentem perceber que tipo de ilustrações se adequa ao vosso tipo de livro. Vão a uma livraria e vejam edições similares.

- Não escrevam na vossa apresentação ou sinopse que acham que a vossa obra tem grande potencial comercial. Essa é uma decisão do editor. Esta recomendação funciona por extensão para as vossas opiniões sobre a vossa própria obra. Eu pessoalmente também não gosto de receber a informação de que a obra foi lida pelo professor X ou pelo Autor Y que a considerou muito interessante mas sei que há editores que prezam essas opiniões.

- Evitem erros ortográficos e de sintaxe pelo menos na sinopse e apresentação (mais ainda no CV). Tenham cuidado com a apresentação. Um original enviado a uma editora deve ser apresentado com os cuidados que antigamente se dedicavam à toilette de Domingo. (Fica aqui uma nota muito clara a dizer que o mesmo vale para quem faz testes de tradução, envia CVs para o lugar de revisor ou outro – sim, esta nota é muito necessária, infelizmente).

2 – CRITÉRIOS, MÉTODOS DE ANÁLISE, CONSIDERAÇÕES ESTRATÉGICAS

Há uns anos, ou no Blogtailors ou na revista dos Booktailors, escrevi um texto sobre o que entendia serem os requisitos de um editor moderno. Ainda não mudei de opinião. O editor moderno deve, para além da sua função na máquina editorial, ser um profundo conhecedor dos processos a montante e a jusante. Digam-lhe ou não directamente respeito. O editor moderno tem de ser pessoa de vários ofícios: tem de ser editor, em primeiro lugar, mas deve ser crítico, analista de mercado, psicólogo, diplomata, comercial, marketeer, e muitas vezes financeiro. Isso vai sendo cada vez mais necessário, sobretudo no ambiente das grandes empresas em que as decisões estratégias e até editoriais são mais e mais amiúde tomadas por quem nada sabe do público final ou de livros.

Recebido um original e decidida a sua análise (há sinopses ou apresentações de obras que evidenciam de imediato a sua desadequação), costumo fazer uma leitura simples da obra. O editor deve ser capaz de “esvaziar“ a sua cabeça e fazer uma leitura como um leitor médio. O editor tem sempre de posicionar a sua leitura ao nível da dos leitores.

Dessa leitura deve em primeiro lugar ser aferida a qualidade da obra. A qualidade da obra é definida por um conjunto de atributos: qualidade da escrita, originalidade do tema, da abordagem e do estilo bem como o resultado final. Muitas vezes uma obra não consegue uma avaliação boa em qualquer destes atributos mas no compto geral consegue ser um todo harmónico, coisa que muitas obras que conseguem ser triunfantes em vários dos mesmos atributos nunca chegam a conseguir.

A análise acima é a mais pessoal e cada editor terá metas e notas diferentes a dar consoante o seu perfil de leitor e consoante o tipo de obra em causa. Dessa análise, determinará também o editor, a necessidade de alterações, correcções, adendas ou eliminações que considera necessárias.

Uma segunda análise deve ser feita em seguida e passa pelo conhecimento que o editor tem de ter do mercado editorial e em particular do segmento editorial no qual se insere a obra em análise.

Essa análise passa por perceber em primeiro lugar o seu funcionamento comercial. Explico agora o que quero dizer com isto. Para mim saber se uma obra funciona comercialmente significa saber se dentro das tipologias nas quais insiro a obra e das expectativas que cada tipologia/segmento determina como expectativas médias, a obra faz ou não sentido. Por exemplo: se estou perante um romance “cor-de-rosa” eu preciso de determinar se este está à altura dos rivais no mercado; se estou confrontado com um livro cuja publicação se justifica pelo prestígio que traz a um catálogo ou editora, se ainda assim ele cumpre os requisitos expectáveis desse tipo de livros. Ou seja, dizer que um livro é ou não comercialmente funcional não significa que o editor obrigue a obra a ser rentável na sua apreciação mas a saber que pode ter nas mãos um livro excelente mas tão hermético que apenas 50 pessoas o entenderiam.

Por outro lado é necessário um conhecimento grande do mercado. É preciso saber bem qual o espaço que o mercado dá a determinadas obras. Erro grosseiro de muitas editoras tem sido a edição sistemática de livros de determinada tipologia/género quando há livros muito semelhantes no mercado e incapacidade dos compradores em esgotá-lo. O editor de um livro que se destine a um destes espaços já sobre-lotados tem de estar certo das mais-valias que a obra tem e que a podem destacar acima das demais.

A partir daí a decisão final que deveria caber ao editor mas é cada vez mais tomada por gestores, é definir dentro das necessidades da empresa a possibilidade de encaixe do título aprovado.

Pelo meio disto, o editor teve também de ponderar a lógica do enquadramento de determinada obra numa linha, colecção ou chancela: a obra pode ser excelente mas não fazer sentido numa determinada linha editorial. Caso se determine a sua saída, o editor deverá meditar bem o entrosamento da obra com os restantes títulos a sair na mesma linha/chancela/colecção para que não haja choques ou canibalismo comercial. Deverá conciliar os factores atrás determinados com o momento de publicação ao longo do ano, conhecendo como deve conhecer, os momentos de oscilação do mercado, os momentos ideais para apresentar novos autores, para obter as atenções da crítica/imprensa especializada, para propiciar determinados objectivos comerciais, etc.

As condicionantes a todo este processo variam imenso de editora para editora e podem passar pela disponibilidade financeira, as determinações do mercado, as decisões administrativas e estratégicas que podem privilegiar uma colecção/linha em detrimento doutra, a prevalência da importância de um título sobre outros por questões do momento, etc, etc, etc. Claro que a generalidade destas condicionantes é a responsável por boa parte do caos reinante na lógica de edição de linhas, colecções e catálogos. Caberá ao editor directamente ou em discussão com a Administração da sua empresa, tentar minorar os danos causados pelas condicionantes que determinam alterações ao programa determinado pelo editor.

Pensados todos estes pontos, pelo menos numa primeira abordagem, o editor deve, a partir desse momento, comunicá-los, discuti-los e explicá-los com e ao autor depois de o informar do interesse em fechar contrato e publicar aquela obra. E aqui entramos no território, amplamente discutido atrás neste blogue, da relação Autor/editor.

Hugo Xavier

11/19/2012

O Futuro da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas

(rascunho de uma carta aberta para o Secretário de Estado da Cultura)

Estimado Jorge Barreto Xavier,
Dirijo-me a si através desta carta aberta. Faço-o porque dos dois anos que trabalhámos juntos na Câmara Municipal de Oeiras (enquanto Vereador do Pelouro da Cultura e enquanto Chefe da Divisão de Bibliotecas) me ficou a ideia que é conhecedor e defensor do inestimável papel social desempenhado pelas bibliotecas públicas.

Acredito que o sucesso das bibliotecas públicas se deve à confluência de três fatores determinantes: vontade politica (materializada na aposta estratégica, por parte dos autarcas, no desenvolvimento sustentável dos equipamentos e dos serviços); competência técnica (materializada na existência de equipas técnicas especializadas, com elevados níveis de empenho e de desempenho); recursos estratégicos (materializada em edifícios funcionalmente adequados, fundos documentais diversificados, meios tecnológicos atualizados, equipas técnicas especializadas, recursos financeiros adequados). Em Oeiras, durante alguns anos, esses fatores confluíram de modo a tornar as Bibliotecas Municipais de Oeiras numa referência a nível nacional. Viveu-se um período áureo. Em muitas bibliotecas municipais da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas (RNBP) aconteceu o mesmo.

Todavia, depois de 25 anos de implementação em todo o território nacional (são cerca de 200 as novas bibliotecas municipais que já foram inauguradas), a RNBP encontra-se perante um paradoxo: nunca como hoje, foi tão necessário e urgente transformar as bibliotecas públicas portuguesas adequando-as as mudanças sociais ocorridas; nunca, como hoje, houve tanta dificuldade em mobilizar a vontade política e os recursos estratégicos para o fazer. A urgência de transformar as bibliotecas públicas portuguesas surge como resposta às rápidas, profundas e irreversíveis, mudanças sociais ocorridas nos últimos anos (com a emergência da internet e dos novos media); a dificuldade em mobilizar a vontade política e os recursos estratégicos para a transformação decorre do impacto da crise internacional em que estamos mergulhados.

Perante este paradoxo, resta-nos tão-somente dois caminhos: transformar ou desaparecer. O fator decisivo que ditará o futuro das bibliotecas públicas portuguesas tem a ver com o seu efetivo impacto social. Das duas, uma: ou as bibliotecas públicas continuarão a acrescentar valor social e sobreviverão, ou as bibliotecas públicas deixaram de acrescentar valor social e desaparecerão. O seu desaparecimento não vai ser um processo imediato e evidente mas será sim um processo de lenta decadência. Com o desinvestimento nos recursos estratégicos e consequente incapacidade de dar resposta às mudanças sociais, as bibliotecas públicas tornar-se-ão em instituições socialmente obsoletas e irrelevantes.

Pessoalmente acredito que temos todas as condições para transformar as bibliotecas públicas portuguesas. Mas isso implica definir claramente qual o caminho que queremos trilhar nos próximos anos. A vontade política será determinante no desenvolvimento desse processo de transformação. E é neste contexto que deixo aqui as minhas sugestões para si, enquanto responsável governamental pela área da cultura. Passo a enunciá-las:
1.       Realizar um diagnóstico da situação da RNBP – Este diagnóstico é fundamental para conhecer a situação atual das bibliotecas municipais que integram a RNBP, e, consequentemente, estabelecer uma estratégia de desenvolvimento sustentável para os próximos anos. Para além da realização de um inquérito extensivo a todas as bibliotecas, deverão ser também realizados estudos de caso e entrevistas com os atores-chave da RNBP. Acima de tudo há que recolher dados quantitativos e qualitativos dentro de uma matriz previamente definida, estabelecer um quadro de referência nacional e mapear as diversas realidades regionais e locais. Preferencialmente este diagnóstico deverá ser efetuado por uma entidade independente, competente e experiente. Sugiro que essa entidade seja o ISCTE, pelo histórico que esta instituição académica tem na realização deste tipo de estudos na área das bibliotecas.

2.       Formar um Grupo de Trabalho RNBP 2020 – À semelhança do que aconteceu no passado (1986 e 1996) é fundamental criar um Grupo de Trabalho que, de uma forma sistemática, apresente um conjunto de propostas para o estabelecimento de uma estratégia, de medidas e de ações estruturantes, para o desenvolvimento sustentável para a RNBP no horizonte temporal de 2020. Esse GT deverá integrar um conjunto de profissionais que, com o seu conhecimento e sua experiência, possam pensar prospectivamente a RNBP. O processo reflexão deve também ter uma componente de debate alargado com todos os profissionais da área (via Fórum das Bibliotecas Públicas). O resultado desse trabalho deve ser consubstanciado através da definição de Linhas de Orientação para a RNBP. Esse documento deve ter um carácter orientador e não vinculador, todavia a sua aplicação deve ser incentivada pelo Estado.

3.       Criar um Fórum das Bibliotecas Públicas – Este Fórum será um espaço de participação alargada a todos os profissionais da área das bibliotecas públicas portuguesas. Tendo o carácter de um espaço de reflexão e de debate permanentes e em aberto, este fórum será materializado de duas maneiras: fórum presencial (reuniões mensais com duração de um dia), onde serão abordados circunstanciadamente e em profundidade temas atuais (formas de financiamento, serviços inovadores, atualização profissional, modelos de gestão, ferramentas do marketing, integração dos ebooks, etc.); fórum virtual (suportado por um site com ligação às redes sociais), esta componente do fórum permite que a reflexão e o debate sejam ainda mais continuados, alargados e participados. Do Fórum surgirão uma série de recursos e documentos que irão engrossar um corpus técnico para a mobilização e atualização dos profissionais (vídeos, recomendações, tutoriais, etc.).

4.       Definir Linhas de Orientação para a RNBP – Com o Programa da RNBP foi estabelecido um modelo para a criação e organização de novas bibliotecas municipais. Esse modelo definia claramente (em função da população servida): filosofia de organização e funcionamento, áreas dos edifícios das bibliotecas, fundos documentais mínimos, infraestrutura tecnológica básica, quadro de pessoal necessário. Ficou por definir no Programa da RNBP um modelo para o funcionamento e gestão das novas bibliotecas municipais. Esse modelo deverá definir claramente (em função nas novas exigências sociais): portfolio de serviços mínimos, métodos de envolvimento das comunidades, métodos de gestão inovadores, fontes de financiamento adequadas, perfil de competências dos profissionais, estratégias de funcionamento em rede. Estas orientações devem ser operacionalizadas por programas governamentais que incentivem a sua aplicação e prémios que reconheçam os resultados alcançados.

5.       Criar um programa de formação avançada para bibliotecários – Os bibliotecários são os agentes da mudança e da inovação tão necessária à transformação das bibliotecas públicas portuguesas. Atualizar os conhecimentos e as competências técnicas dos bibliotecários que já trabalham na RNBP é uma tarefa urgente e prioritária. O enfoque deste programa deve ser colocado nas seguintes temáticas: métodos de gestão para a qualidade e para a inovação, liderança de equipas de trabalho e de projetos inovadores, desenvolvimento de serviços inovadores de base tecnológica, métodos de envolvimento das comunidades locais na gestão. Financiado pelo Estado, sujeito a um rigoroso processo de candidaturas, este programa deve ser desenvolvido em estrita colaboração com a BAD (pela sua longa experiência de formação profissional especializada). Acima de tudo este programa deve servir para criar uma postura resiliente, proactiva e inovadora, por parte dos bibliotecários da RNBP.

6.       Criar um programa de inovação para a RNBP – O desenvolvimento sustentável das bibliotecas públicas portuguesas depende, em grande medida, da sua capacidade para respostar de forma rápida e eficiente aos constantes desafios que as rápidas e profundas mudanças sociais implicam. A inovação é pois uma estratégia determinante não somente para melhorar a performance das bibliotecas públicas mas essencialmente para garantir o seu impacto social. No entanto, a inovação não deve ter a novidade tecnológica por motivação e justificação. Inovar deve significar, antes de mais, tornar as bibliotecas públicas mais adequadas às comunidades que servem. Assim sendo, grande parte das inovações serão de ordem metodológica, levando a novas formas de prestar serviços, de envolver as comunidades, de promover a literacia, de gerar recursos, de organizar espaços, de motivar equipas. O modelo a aplicar pode ser idêntico ao utilizado com grande sucesso na Rede Internacional de Bibliotecas Públicas (financiada pela Fundação Bertelsmann). Fase 1 – desenvolvimento de um novo conceito, serviço ou metodologia; Fase 2 – aplicação num conjunto de bibliotecas públicas de teste; Fase 3 – monitorização e avaliação dos resultados alcançados; Fase 4 – validação do novo conceito, serviço ou metodologia; Fase 5 – disseminação alargada dos resultados alcançados.

7.       Criar um prémio de boas práticas na RNBP – Dar a conhecer de forma sistemática e alargada muito do trabalho anónimo mas altamente meritório que já é realizado pelas bibliotecas municipais que integram a RNBP é o grande objetivo deste programa. Passando por um processo de avaliação de candidaturas (por um júri independente) as boas práticas são avaliadas, validades e premiadas. O prémio deve ter duas componentes: reconhecimento público das boas práticas; integração prioritária no programa de inovação. Todas as boas práticas da RNBP serão disseminadas pelas outras bibliotecas municipais através de vários métodos: estudos de caso, entrevistas com intervenientes, organização de seminários, organização de estágios, etc.


Estimado Jorge Barreto Xavier,
Concluo sublinhando três ideias centrais: acredito que a redefinição das politicas estatais que estão na base da RNBP é urgente e inadiável; acredito que essa será uma das preocupações prioritárias da SEC sobre sua liderança e supervisão; acredito que os profissionais da RNBP estão interessados e vão estar empenhados no processo de transformação das bibliotecas públicas portuguesas. Está nas suas mãos (enquanto responsável governamental pela área) desencadear esse processo de transformação. O repto fica aqui lançado, espero que aceite o desafio.

Saudações cordiais

Filipe Leal

11/15/2012

Sobre editores, uma visão para autores

Observo que existe interesse por parte dos autores em relação ao mundo da edição e da forma de se relacionar com ele, por isso resolvi fazer este pequeno texto introdutório, para evidenciar algumas das características que definem o enquadramento mental de cada um neste setor.



Gostaria, neste texto, de destacar que, quando se fala de edição, e apesar de se trabalhar eminentemente com uma matéria-prima cultural e/ou informacional, estamos a falar de uma indústria.

Mais do que o famoso binómio economia/cultura (ex libris que muitos estudos nos anos 1980...) há que referir que, dependendo da posição em que se está neste setor e das características dos agentes, a forma como se posicionam nesse binómio e o resultado real da sua ação pode variar bastante.

Ou seja, se para muitos autores a escrita é fruto de uma paixão, outros há que a entendem de forma fria e profissional, enquanto profissionais da escrita que o são, e podem ver o seu trabalho como uma profissão ao serviço de uma indústria, de um cliente. O caso do James Patterson é mais do que conhecido, mas também poderemos encontrar por cá alguns que veem na escrita um trabalho concreto, fruto de encomendas mais ou menos explícitas do mercado ou das editoras.

Se, da parte de alguns autores, isso já acontece, imagine-se da parte de quem lida há anos e anos com inúmeros textos de diversas valias (e toda a gente concorda que se publicam demasiadas coisas desinteressantes). Por mais paixão que haja da parte de um editor – e há muito mais do que o habitual, daí ter escolhido esta profissão − passa a haver imediatamente uma triagem fina entre os livros pelos quais os editores têm paixão e aquilo que veem como trabalho. Ao fim de alguns anos, a maior parte dos livros publicados são essencialmente trabalho e a paixão cultural fica restrita a alguns poucos livros e autores.

Recordo-me de alguns editores que referiam ler frequentemente livros diferentes daqueles que publicam, como o ex-editor da Pergaminho, Mário Moura. Se isso acontece com os editores, que trabalham diretamente com os autores, imagine-se então outros agentes do circuito, como distribuidores, agentes comerciais, responsáveis por direitos, responsáveis de marketing, etc.



Naturalmente, cada caso é um caso e há ainda alguns editores em Portugal que trabalham com absoluta paixão, como Vítor Silva Tavares (&Etc.) ou Luís Oliveira (Antígona), só para dar exemplos de alguém que ninguém duvide.

Acima de tudo, os autores devem perceber que muitos daqueles são profissionais de uma indústria, que trabalham para uma indústria. Que pegam numa matéria-prima e fazem um protótipo industrial que é reproduzido massivamente, ou que pegam nesse produto e vão fazer o máximo para o vender.

Todos eles sabem que um livro não é o original, apesar de ter muitas vezes um acréscimo significativo de capital criativo único – por parte de tradutores, designers, editores, paginadores, especialistas gráficos, etc. −, da mesma forma que um CD não é um concerto. Se um livro é guilhotinado, há mais 1000 por aí e, se não houver, há o ficheiro ou o original e podemos fazer mais 1 milhão, se interesse houver.

Como veículo de transmissão e comercialização é um objeto apaixonante mas essa paixão não deve ser confundida com o texto artístico. É apenas o veículo para dele usufruirmos e a paixão sobre ele deve manifestar-se noutras alturas, como se manifesta. Aliás, os editores serão dos maiores apaixonados e colecionadores de livros fora do seu local de trabalho.

Apesar disso, o editor é o melhor profissional que o autor pode ter ao seu lado para que a obra consiga chegar aos leitores da melhor forma possível. Ele é um parceiro imprescindível não só para abrir o caminho do mercado, mas também pela experiência e conhecimentos que tem que permitem pegar num texto e associar outros tantos profissionais criativos capazes de criar um livro: o resultado de um trabalho de equipa. Da mesma forma que um encenador necessita de atores, diretor de autores, cenógrafos, assistentes de palco, pessoal da limpeza e rececionistas para ter uma peça em palco, um autor necessita de uma equipa capaz de fazer um livro.

Ao contrário do que se pensa, não é o autor que faz o livro. O autor escreve o texto e dá a parte mais importante, mas só em conjunto com o editor que se faz, de facto, um livro.

Os autores com verdadeira capacidade e interesse devem primeiro perceber, e sem ilusões, o que pretendem com a publicação (aka industrialização) da sua escrita, e só depois procurar o editor que melhor se coadune com aquilo que, de facto, quer. Não será preciso dizer que os editores são iguais às restantes pessoas: há os diligentes, os apaixonados, os desinteressados, os ambiciosos, os egocêntricos, os invejosos, os incompetentes, os profissionais, os difíceis, os geniais e até, com sorte, o editor perfeito para si.

Nuno Seabra Lopes

11/12/2012

Inquérito ao Sector do Livro: Reflexões para um Debate que Urge

No passado dia 30 de Outubro teve lugar a apresentação pública, agora com versão electrónica em http://www.oac.pt/menuobservatorio.htm, dos dois volumes – Parte I: Enquadramento Económico e Parte II: Inquéritos à Edição e à Comercialização, que constituem a resultante final do estudo levado a cabo pelo Observatório das Actividades Culturais (OAC) durante o período 2007-2009 e cujos resultados preliminares tinham sido dados a conhecer em pretérita sessão ocorrida em 2008.

Revisitar a documentação final permitiu-me consciencializar o ciclópico trabalho desenvolvido e o mérito deste repositório de fontes, factos e dados que marcaram uma época de grande significado no sector do livro. Considero encetado caminho profícuo para aprofundamento de múltiplas questões ainda em aberto e realço a necessidade de, em estudos futuros, colmatar lacunas que subsistem.

Neste contexto, surge uma primeira questão: que relevância devem as instituições públicas atribuir ao estudo do sector do livro e qual a razão para que o Estado dê uma atenção privilegiada a este indústria cultural e criativa. A resposta afirmativa corre o risco de ser considerada politicamente incorrecta face aos constrangimentos financeiros e sociais que enfrentamos num país que parece querer retroceder a épocas negras que julgávamos definitivamente ultrapassadas. Mas são as lições do passado que confirmam o obscurantismo cultural e a denegação do acesso pleno e consciente ao livro e à leitura, como factores endémicos dos males que nos atormentam.

Porquê atribuir esta função ao Estado, quando há países onde tal incumbência é exercida por Associações dos profissionais do livro, constitui questão pertinente. No entanto, a história, remota e recente, evidencia ser impraticável, entre nós, uma opção desta natureza; por razões decorrentes da dimensão do mercado e das assimetrias que se acentuam, como também da complexa estrutura do sector e, lamentavelmente, da atávica desconfiança entre os múltiplos operadores.

Tomando em conta estes pressupostos, enuncio alguns contributos que me parecem pertinentes para uma reflexão séria e urgente:

1. A ambição e envergadura do estudo agora publicado, que se constitui como marco de referência, deve levar, pelas próprias dificuldades e limitações que nele são sublinhadas, a que trabalhos futuros sejam ajustados às novas realidades, elaborados tendo em conta a comparação evolutiva, concretizados regularmente e difundidos em tempo útil.

2. Como prova a baixíssima participação neste inquérito, a relutância dos inquiridos em envolver-se num questionário de grande exigência, sem carácter de obrigatoriedade, deve ser tida em conta na planificação de estudos futuros, nomeadamente nos seguintes aspectos:
      • Partir de um modelo simplificado, contendo as necessidades básicas de informação consideradas relevantes pelos diversos destinatários e que seja coerente com os dados disponibilizados por outras fontes;  
      • Evoluir progressivamente para modelos mais abrangentes e complexos, envolvendo e preparando atempadamente os destinatários, criando-lhes sentido de rotina, propiciando aos técnicos uma progressiva optimização de conhecimentos sobre a dinâmica e a realidade prática do sector e fomentando a indispensável confiança na interacção com os respectivos agentes;
      • Constituir o INE, instituição pública e independente, oficialmente responsável pela recolha da informação definida, e impor obrigatoriedade de fornecimento dos respectivos dados por quantos operam no sector do livro;
      • Atribuir ao OAC a missão de analisar, complementar e interpretar os dados, e de lhes dar divulgação pública tendo em conta que aos destinatários interessa informação harmonizada, continuada e eficaz.

3. Reveste-se da maior importância que a estrutura de dados a fornecer ao INE contemple códigos de classificação em que livro esteja sempre desagregado de quaisquer outros produtos Por outro lado, a significativa quota de participação dos hipermercados e a intervenção das mais diversas e múltiplas entidades na edição e no comércio livreiro, implica a existência de codificações próprias que permitam quantificar e qualificar de forma inequívoca a realidade do mercado.

4. A evolução do livro electrónico, como da edição própria e de todos os restantes fenómenos emergentes no sector do livro, é matéria que requer atenção e tratamento específico que não se justificavam aquando da elaboração do presente inquérito.

5. A quantificação e análise das implicações decorrentes do novo Acordo Ortográfico deverá ser parte integrante do capítulo que aborda a internacionalização do livro português, para que se saiba o que ganhámos e perdemos neste domínio, não apenas na relação directa Portugal-Brasil mas também nos efeitos que se irão sentir, ou não, na evolução das transacções com os PALP.

 Rui Beja
(Texto escrito a 7/11/2012)

11/07/2012

Autor, Autor


Qualquer editor sabe a dívida de gratidão que deve ter em relação aos seus autores. Sejam eles vivos ou mortos, estejam eles diretamente em contacto com os editores ou intermediarizados por agentes ou parceiros (úteis ou não, pois cada caso é um caso), são os autores que fazem com que os livros nasçam e se vendam.

Apesar disso, a relação entre autores e editores (englobando aqui toda a supraestrutura empresarial que se ergue como defesa da relação autor/editor) é complexa e, muitas vezes, mal compreendida pelos intervenientes. O resultado habitual disso é o romper da confiança e o desbaratar de algo tão importante na nossa sociedade: o relacionamento interpessoal.

Senão vejamos; muitas vezes os autores chegam aos editores após um percursos algo atribulado que os reduz à matéria de objetos em análise, algo que se compreenderá numa fase inicial, pois dá-se o processo de seleção (havendo valorização da função de seleção do editor como prescritor primeiro da qualidade mercadológica da obra). Após esse primeiro contacto inicia-se uma «guerra» pela preponderância ora de uma, ora de outra função, num evoluir dialético da relação saudável e natural. Nesse processo a reputação e arquitetura relacional detém uma função primordial na resolução de conflitos. Um reputado editor convencerá os seus autores das necessárias modificações e acatamento de sugestões de modificação das suas obras (independentemente da validade técnica das mesmas).

Habitualmente, e se se der um sucesso pronunciado do autor, com aumento da sua reputação, dá-se o reverso, tal como se explicita com a história atribuída a Érik Orsenna que, após ganhar o prémio Goncourt (1988), se virou para o seu editor das Éd. du Seuil e proibiu-o de, a partir de então, fazer alterações ao texto.

Mas mais do que guerras e disputas no território da escrita – que pouca relevância têm para este debate −, o que importa pensar é na forma como a relação profissional e contratual não segue este percurso natural sendo, a maior parte das vezes, desequilibrada, obscura e desinformada.

Iniciando-se a ação no editor (com o argumento da estrutura e do processo), os contratos são pensados para garantir uma repartição benéfica dos editores e suas estruturas, com imposição de cláusulas abusivas e de salvaguarda unilaterais escritas numa terminologia impossível de perceber para quem não tem experiência ou conhecimentos. Dado fazer-se no início da relação, o autor encontra-se fragilizado na relação e confia, aceita e até, por vezes, agradece o facto de ser «aceite», sujeitando-se às regras impostas.

O resultado para o autor é, quase sempre, a dificuldades na obtenção de informação comercial e a sujeição a barreiras de acesso informacional do percurso do livro. Por outras palavras, afastam-nos, colocam-nos de fora do projeto e distanciam-nos motivacionalmente do resultado do livro. Muitos autores veem os seus livros tornarem-se órfãos da mãe à força, iniciando-se logo ali a pressão do editor para que «produza» mais um livro.

Para além disso, o estabelecimento de expectativas irrealistas iniciais pode também produzir mal-entendidos futuros e, no meio de tudo isso, levar ao forçar da confiança e ao rompimento das relações estabelecidas.

Será isso estranho? Será estranho que um escritor aceite não estar envolvido no processo comercial dos seus livros? Que descubra mais tarde e por carta que os mesmos serão abatidos, exceto se os comprar com avultado desconto, numa tentativa de fazer regressar à casa materna um filho que se revelou pouco «pródigo»? Será suficiente para um escritor receber uma ou duas prestações de contas anuais, que revelam muito genericamente as «vendas», e ainda por cima com «filtros» contabilizando possíveis devoluções? Será a solução de forfait (pagamento integral acertado antes das vendas) ou o avanço uma solução possível numa relação que alguns querem «distanciada» e estão dispostos a pagar à frente por ela?

Quando um livro falha muitas poderão ser as razões, mas, pela distância a que os colocam do mercado, quase sempre os escritores desconhecem os motivos desse falhanço. O facto de ele não participar no processo, leva à desconfiança de que a falha será não tanto do genérico «mercado» − sempre acusado −, mas mais do mercador.

No meio de tudo isto, os editores esquecem-se de que necessitam dos autores. São estes últimos os detentores da relação de confiança com os leitores: são eles os principais motivadores da compra. Depende da sua motivação a continuação da sua escrita e o potencial crescimento que possam ter.

Uma relação honesta, credível, que contemple o autor no destino do livro levará a uma relação duradoura, de aprendizagem constante, onde cada obra que se segue só poderá somar. Uma relação distante e minada de desconfianças, levará à perda de autores para outras editoras e à incapacidade de crescimento ótimo do catálogo tanto do editor, como do autor.

Nuno Seabra Lopes

11/06/2012

Obrigações morais do editor

Estão-se a viver tempos sombrios, o que não será grande novidade para ninguém… Tempos sombrios, não só por causa da crise económica que Portugal e a Europa estão a sofrer, mas por causa de um aspecto mais grave ainda, que é o da quebra, cada vez mais óbvia, não simplesmente da «coesão social», mas até da vontade de prosseguirmos juntos uma caminhada de muitos séculos, de não quebrarmos os laços mínimos que, a despeito de opções políticas e sociais diversas, entre nós têm apesar de tudo subsistido.

Por tudo isso, creio que aqueles que hoje se dedicam à edição livreira – independentemente e para além mesmo da necessidade de fazerem negócio e de sobreviverem – têm três obrigações morais inescapáveis. _ A primeira é a do culto de uma certa memória histórica. Memória colectiva, mas também memória pessoal dos muitos que, de algum modo, marcaram as nossas vidas ou contribuíram para fazer de nós aquilo que hoje somos, memória de sensibilidades, memória de reflexão, memória de artes e ofícios e tradições.

A segunda refere-se à necessidade de darmos curso, em muito do que formos fazendo, à busca de visões e soluções alternativas que nos permitam a todos imaginar um mundo diferente deste em que estamos a viver – e se aproxima, se não erro, do seu final. A história está-se a fazer dia após dia, diante de nós e por nosso intermédio. Mas está-se a fazer de olhos vendados. Os editores devem contribuir, tanto quanto possível, para que os caminhos se pensem, na sua pluralidade, para que saibamos todos avaliar e compreender melhor as consequências e as potencialidades de cada opção.

E finalmente obrigação estrita de moderação, obrigação de fazer de cada editora uma casa de diálogo, de pacífica coabitação entre gente que, na vida «real», pensa de forma rigorosamente oposta sobre as mesmas coisas, e de confronto sereno das suas obras e das suas concepções.

Se, entre as várias obras que formos editando, algumas obedecerem a estas três obrigações, penso que, dentro de alguns anos, quando pudermos afinal olhar para trás e contemplar um pouco do que fizemos, não nos sentiremos envergonhados.

João Carlos Alvim

11/02/2012

Da incultura no meio editorial


Todos os anos se fala da crise na área da edição. Os editores do Eça e do Camilo trocavam com os autores cartas em que mencionavam essa crise.

Vivemos uma crise cultural de grande dimensão desde que foi possível perceber o que é uma crise cultural. Nunca conseguiremos sair dessa crise enquanto não se conseguirem combater eficazmente dois flagelos inteiramente ligados entre si: o afastamento das pessoas relativamente à cultura, seja ela sob que forma for, e o desligamento da memória.

Na área editorial em Portugal a mesquinhez é rainha. Ao longo de séculos a incapacidade de um associativismo activo e eficaz é notória. Preferimos “lixar” o parceiro a ter sucesso em conjunto. Nunca se apresentou uma iniciativa de longo curso no sentido de angariar novos leitores. Preferimos continuar a lamentar-nos cada um para o seu lado.

A nossa memória é negativa: lembramos sempre a desfeita que o outro editor nos fez. O positivo é sempre subvalorizado. E essa memória negativa é a única que existe. Estamos num país onde não se preserva a memória de nada, em que a memória, a experiência e a sabedoria são temidas e desprezadas.

Na área editorial essa verdade é facilmente verificável. Com raras e gratas excepções, não se faz quase nada para preservar a memória da edição enquanto facto cultural.

Não quero aqui puxar a brasa à sardinha dos editores mas na maior parte dos países civilizados procura-se resgatar o passado das empresas editoriais. Há países onde há centros que se dedicam especificamente a essa tarefa, outros em que as universidades adquirem ou vêm serem-lhes doados os arquivos das editoras históricas…

Se alguém quiser investigar a história ou importância cultural de uma casa editorial portuguesa corre o sério risco de nada encontrar de relevante. Digamos que eu queria estudar a importância da Typographia Rollandiana, provavelmente a primeira editora portuguesa a publicar literatura de massas (policial/fantástico-neo-gótico) entre finais do primeiro quartel do século XIX e os começos do último quartel. Se eu quisesse saber quem foi o editor responsável por essa política que revolucionou a edição em Portugal e vulgarizou a leitura junto de segmentos de público que habitualmente não lia, como poderei fazê-lo se nada sobre senão os livros que nada informam sobre esta questão? Nada há, nada sobra.

E se eu aponto este exemplo posso dar outros de editoras marcantes durante o século XX português. Em boa verdade haverá não mais do que 4 pessoas a trabalhar seriamente a História da Edição em Portugal mas as fontes e os documentos escasseiam ou pura e simplesmente não existem.

Mas se esta memória histórica está essencialmente perdida. Se todos os anos morrem pessoas com um manancial de informação que nunca mais se poderá recuperar, pessoas ligadas às grandes casas de edição do século transacto, a perda de memória atinge níveis muito mais preocupantes ainda a um nível mais primário.

Da mesma forma como os adolescentes parecem cada vez mais gerontofóbicos e as frases como “morte aos velhos” e as atitudes de desrespeito se multiplicam (o Bioy Casares, no seu «Diário da Guerra aos Porcos» antecipava essa realidade que só tende a aumentar com um país envelhecido em que terão de ser os poucos mais novos a cuidar dos muitos mais velhos), da mesma forma como os netos já não ouvem as histórias dos avós e os tratam por tu. Da mesma forma como qualquer transmissão de uma experiência que alguém tente junto das novas gerações é entendida como mais um ensinamento (com toda a carga negativa de gerações educadas com os país e vizinhos a dizerem “Vais para a escola. não é? Coitadinho, mas lá tem de ser”). Da mesma forma hoje em dia as empresas de edição trabalham cada vez mais repetindo sucessivas vezes os erros do passado.

Não se aprende em Portugal, não se evolui pelo acumular de experiências, repetem-se constantemente os erros mais básicos, não se respeita quem sabe, quem tem história, não se funciona hierarquicamente salvo quando estas hierarquias são tirânicas.

E porque é que tudo isto é importante? Porque esta crise vai levar a uma reestruturação do mercado, ao seu redimensionamento e à sua reinvenção. E essa nova edição só será bem sucedida se conhecer o passado. Caso contrário repetirá ciclicamente e de forma auto-destrutiva, os erros do passado.

É necessária a partilha de informação e experiências entre os editores. É necessário ouvir e investigar o passado porque os edifícios sem alicerces desabam em muito pouco tempo.

Eu estou nesta área há 13 anos e neste tempo vi repetirem-se situações com as mais diversas editoras e com a própria estrutura do mercado que não fazem sentido. Da DIG à Sodilivros vão pouco mais de 11 anos mas há coisas piores, erros cometidos por uns que são repetidos por outros com meses de intervalo.

Assim a indústria da Edição não vai conseguir reinventar-se. Vai manter-se em crise e vai continuar a ser a principal responsável - ao lado de toda uma cultura de imediatismo que leva a que a questão do momento tenha uma duração de impacto idêntica ao tempo de permanência visual de um artigo numa página do Facebook – pelo afastamento dos leitores. Sim, colpa nostra.

É necessário, agora mais do que nunca, que o associativismo trabalhe e proteja a memória do sector (seja independentemente, seja por via de parcerias com terceiros). É necessário formar os profissionais do sector, transmitir e compartilhar experiências. Meditar de forma prática uma reinvenção exequível do sector e trabalhar contra a sua extinção.

O nosso sector não tem nada de novo em termos de fundo há anos. Mesmo a edição digital é uma variante apenas ligeiramente diferente da edição física. Com ligeiras actualizações, o trabalho editorial que se fazia nos séculos passados é essencialmente o mesmo que fazemos hoje. Mudou-se o ritmo, como em quase tudo, mas no essencial estamos perante processos muito próximos. A perspectiva histórica aliada à análise de resultados das políticas e acções, estratégias e opções tomadas no passado, é ela que nos abrirá caminho para o futuro.

Temos de ser rigorosos e isentos nessa análise por forma a não repercutirmos o erro. Se não sabemos, devemos calar-nos ou investigar. Está na hora da edição em Portugal ser uma coisa séria, respeitável e respeitosa em relação ao resto e a si mesma. Mesmo integrados em grupos editoriais com propósitos meramente financeiros, os editores têm de resgatar o seu papel de influência social sobre os leitores e sobre a sua profissão. Deveríamos tê-lo feito em épocas em que teria sido mais fácil mas não podemos atrasar muito mais a construção do futuro da edição no nosso país.

Hugo Xavier
(que não usa o Acordo Ortográfico meramente porque sabe que um brasileiro sabe perceber o que há de comum entre "colectivo" e "coletivo" mas já não consegue perceber o que são "peúgas" e quanto a isso o AO de nada vale)

11/01/2012

Neste blogue fala-se de livros

(Imagem em domínio público, retirada do The Guardian)

Paradoxal poderá ser para muitos o uso de uma tecnologia como esta para abordar um tema que se diz «ameaçado» pela mesma tecnologia, apesar das inúmeras provas em contrário. E esta será mais uma prova.

O livro – esse conceito tão transversal − encontra-se em mudança, tal como a leitura e a forma como conhecemos o nosso mundo, como depositamos e guardamos as memórias a preservar.

Envolvido em mercados centenares, o atual livro é fruto de mudanças bruscas que se sucederam no último século e, em particular, nas últimas décadas. Essas mudanças, longe de estarem terminadas, ainda se encontram em desenvolvimento e só daqui a algum tempo poderemos entender o que será o «livro» de amanhã.

Este blogue pretende trabalhar esse tema. Da nossa periferia, contamos com a experiência de alguns «lá de fora» e com o conhecimento de vários de «cá de dentro». Falaremos do livro, da leitura, do mercado, do produto físico e digital, das tecnologias envolvidas, das bibliotecas, dos autores e, claro está, dos leitores.

Para tal, contamos com a participação regular de alguns dos mais respeitados nomes ligados ao livro, nas suas diversas facetas. Da investigação histórica e sociológica, passando pelo conhecimento e pela tecnologia, pelo mercado, pela indústria gráfica, pelo design, pelos autores, pelas bibliotecas, pelos leitores. Um blogue aberto, sem compromissos de espécie alguma exceto connosco, com a nossa história, forma de pensar, conhecimentos e experiência.

A nossa abordagem não será replicativa de informação, mas geradora de ideias, de discussões, de participações capazes de fazer pensar o universo do livro e encarar de modo informado o mundo que se avizinha. A nossa presença não será diária, mas regular, ainda assim.

Com a equipa de base quase toda composta, nasce hoje a Edição Exclusiva. Um blogue exclusivo para vocês, profissionais amadores de livros.

 Como não poderia deixar de ser, gostaríamos de ter a colaboração de todos os interessados, quer comentando e discutindo cada tema nas caixas de comentários, quer contribuindo de forma pensada, com textos claros e direcionados que tragam informações pertinentes e ideias novas, em formato a apresentar.

Um blogue colaborativo, evolutivo, partilhado e digital de pessoas que se assumem como filhos de Gutenberg e afilhados de Gates.

Sejam bem-vindos à Edição Exclusiva.

NSL