3/26/2013

Grupo Lidel celebra 50º Aniversário

 

Fundada por Frederico Annes, em 15 de Março de 1963, com o objectivo de promover e distribuir em Portugal editoras estrangeiras de livros técnicos e científicos, a Lidel reune as mais fortes razões para celebrar com orgulho o êxito obtido ao longo dos seus primeiros cinquenta anos de actividade no mundo dos livros.

Ganho o conhecimento do mercado e adquirido o saber como actuar nos domínios que motivaram a sua constituição, a empresa lançou-se em 1989 no mercado da edição, começando pela tradução de dois livros estrangeiros no âmbito da medicina - os Manuais de Enfermagem Pediátrica e Obstétrica -, a que se seguiram os livros Projectos Industriais e Português sem Fronteiras. Uma gestão dinâmica, criteriosa e sustentada, conduziu rapidamente à liderança do mercado nacional de livros técnicos, nomeadamente nas áreas da Medicina e de Ensino de Português Língua Estrangeira e Língua Segunda, onde pontificam múltiplos especialistas portugueses. Gestão, Fiscalidade, Química, Biologia, Engenharias, Geomática, Hotelaria e Turismo, constituem, igualmente, domínios de excelência na programação editorial.

Em 1991 iniciou-se uma nova fase de crescimento, tendo sido criadas a FCA - Editora de Informática, que veio a tornar-se líder na publicação de livros sobre tecnologias de informação, e a ETEP - Edições Técnicas e Profissionais, com publicações dirigidas ao ensino técnico-profissional e também às áreas de Automação, Robótica, Electrónica e Secretariado. Posteriormente, em 1910, foi lançada a marca PACTOR, dedicada às Ciências Sociais e da Política Contemporânea.

Seguindo o seu lema de sempre - O livro à procura do Leitor -, o Grupo Lidel mantém-se igualmente na esfera familiar do seu fundador, hoje com 92 anos, sendo gerida pelo seu filho, também Frederico Annes, e tendo já na Direcção Comercial a representante da 3ª geração, Rita Annes.

Pelas razões assinaladas, o percurso do Grupo Lidel é verdadeiramente notável, especialmente se ao que já foi dito acrescentarmos o  grande significado que decorre de o sucesso editorial, comercial e económico, ocorrer numa empresa familiar independente de qualquer grupo económico ou editorial, e num mercado altamente especializado, concorrencial e que enfrenta os fortes desafios colocados pela cópia ilegal e pela evolução tecnológica associada à nova era da Informação Globalizada.

Parabéns ao Grupo Lidel, e à família Annes, pelo sucesso de 50 anos, pelo raro exemplo que constitui e pela capacidade de enfrentar o futuro, a nível nacional e internacional,  conforme tão claramente ficou expresso na sessão comemorativa que teve lugar no passado dia 22, na Fundação Oriente.

Rui Beja
 

Paulo de Cantos


 (uma Linotype a fabricar a legenda do livro) 

Fui hoje muito agradavelmente surpreendido ao saber da publicação da obra O livr-o-mem – Paulo d’ Cantos n’ Palma d’ Mão, pelo Ateliê Bárbara Says.

O professor, designer e editor, praticamente desconhecido até à data, foi uma das mais criativas figuras do design editorial português do Estado Novo, dotado de uma mente surrealista, conviveu com figuras como Fernando Pessoa e Mário Cesariny, em nada lhes devendo em termos de capacidade artística.

Com uma obra vasta e dispersa, abrangendo todo o tipo de temáticas, Paulo de Cantos surge agora aos olhos do público pelo trabalho extraordinário de António Silveira Gomes e Cláudia Restelo, do Ateliê B. Says, através de um livro que é, aparentemente, também uma obra de arte (estou a aguardar a entrega...).

Livro recolha dos trabalhos do professor, parcialmente impresso em tipografia (recurso a zincografias reais e com legendas compostas em Linotype), este é um livro a todos os níveis imperdível para todos aqueles que gostam de design editorial ou da história da edição em Portugal.

Lançado na passada sexta-feira podem optar pela versão regular ou pela especial, de 100 exemplares numerados com um zincogravura original. O preço é convidativo (27,00€) e pode ser comprado em Lisboa na Sá da Costa e na Stet ou, em todo o país, pelo sítio www.cantos.barbarasays.com.

Vejam também a reportagem e vídeo feitos por Raquel Martins e Joana Bourgard para o Público.

Nuno Seabra Lopes

3/20/2013

IV Encontro Livreiro


É já no próximo dia 7 de Abril, da parte da tarde, na Livraria Culsete, em Setúbal, que se irá realizar o IV Encontro Livreiro. Projeto da alma do livreiro Manuel Medeiros, organizado pela esposa Fátima Medeiros, pelo Luís Guerra e outros amigos, este evento tem crescido de ano para ano, apresentando desenvolvimentos de destaque – como a homenagem e entrega do prémio Livreiro da Esperança – e tem-se revelado como o único fórum para o desabafo e a discussão de todas as questões relacionadas com as livrarias independentes.

Pessoalmente, tenho a felicidade de ter podido sempre estar presente e, entre amigos, procurar, em conformidade com o espírito do encontro, participar com a minha visão e comentário.

É com agrado que vejo como, ao longo dessas sessões, tem aumentado o interesse das pessoas, levando a que algumas delas se desloquem centenas de quilómetros para poderem participar, trazendo para a conversa realidades livreiras bastante distintas e, por isso mesmo, muito relevantes e exemplificativas da realidade do país.

Como ao início referi, é já no próximo dia 7 de Abril e eu conto lá estar, e conto também encontrar os amigos de todos os anos e conhecer novas pessoas. Estarei lá, em especial, para ouvir, para aprender com quem diariamente lida com uma atividade em mudança e em crise, para aprender com a experiência de quem tem muito para ensinar.

Espero que possam vir, também.

Nuno Seabra Lopes

3/18/2013

Plataformas de submissão de originais – o Authonomy.com


«Get read. Get noticed. Get published.»
É assim que a plataforma authonomy.com, criada pela HarperCollins em 2008, chama ao seu sítio todos os aspirantes a autores publicados e não só. Trata-se de uma comunidade online que reúne leitores e escritores num só espaço. A ideia terá surgido como uma forma de dar a oportunidade aos membros da comunidade de avaliarem originais que muito provavelmente passariam despercebidos pelos editores.

Através desta plataforma um escritor tem a possibilidade de disponibilizar os seus livros gratuitamente e de ser avaliado pelos membros registados no site, que podem ser outros escritores da comunidade. Aqueles livros que receberem o maior número de recomendações por parte dos utilizadores vão parar a um top. Ao fim de um tempo predefinido, os cinco originais mais recomendados são lidos internamente por editores da HarperCollins que fazem uma apreciação profissional. A comunidade está aberta a todos, desde que sejam maiores de 18 anos, mas os textos terão de estar escritos na língua inglesa.

Trata-se pois de uma maneira diferente de descobrir novos talentos, aproveitando a tecnologia das redes sociais para permitir aos leitores separarem o trigo do joio entre as obras submetidas para apreciação. Deste modo, quando chega à secretária do editor possui já um primeiro certificado de popularidade entre uma comunidade de leitores que à partida, supõe-se, será mais exigente. A reputação dos próprios utilizadores pode mesmo influenciar a escalada de um original no top dos mais recomendados, dependendo do número de avaliações que faz e da qualidade dos mesmos. Existem ainda os talent spotters, membros da comunidade que detetaram um ou mais originais que entretanto se tornaram populares. Quanto mais recomendações certeiras fizerem, mais sobem no ranking do top talent spotters. A instituição destes diferentes rankings, tanto para escritores, como para os originais, como para os leitores, cria uma dinâmica ainda mais apelativa em toda a atividade da plataforma.

Num site deste género que alia o conceito de comunidade online, à auto edição e à edição tradicional, o escritor terá de fazer um trabalho de divulgação que no meio de um mar de textos, alguns deles incompletos, poderá não ser muito fácil. A pensar nisso, o site oferece dicas sobre como escrever uma sinopse cativante ou como escolher um bom título para o livro. Disponibiliza também ferramentas para o escritor melhorar a sua escrita e aperfeiçoar os seus textos, na secção «Writing Tips».

Todavia, é inevitável um novo utilizador confrontar-se com várias dificuldades para fazer com que o seu trabalho seja visto. Terá de estabelecer contactos para garantir que o maior número de utilizadores possível repare no seu texto e o divulgue entre si, e isso dependerá da habilidade do escritor em cativar os leitores da comunidade. Por outro lado, as respostas, mesmo que poucas, em princípio ajudarão a identificar os pontos fortes e, sobretudo os fracos, do texto submetido. Essa interação permitirá fazer uma revisão mais aprofundada com base num feedback mais ou menos construtivo que dificilmente receberia caso enviasse diretamente o livro a um editor ou a um agente.

Segundo os responsáveis do authonomy.com, há já agentes literários e scouts que visitam o site à procura de novos talentos, pelo que mesmo que um original não chegue ao top da Editor’s Desk da HarperCollins, poderá vir a ser selecionado por outros agentes fora da casa. De acordo com a Wikipédia, à data em que o site foi colocado online depois de alguns meses em versão beta, a plataforma contava já com mais de 24 000 utilizadores registados.

Mais recentemente a HarperCollins criou uma chancela digital, a Authonomy Digital Imprint, exclusivamente para a edição de originais descobertos através da plataforma. Os editores prevêem a possibilidade de alguns dos livros terem uma edição impressa, caso as vendas em versão e-book sejam boas. A plataforma, apesar de geralmente bem recebida, não escapou a alguma controvérsia. A assertividade da frase «Get read. Get noticed. Get published» pode ser enganadora. Tal como acontece nos comentários da Amazon ou do Goodreads, coloca-se em causa a intenção dos utilizadores que recomendam livros na plataforma, neste caso fazendo-o apenas com o objetivo de ver os seus próprios livros igualmente recomendados por quem ajudou a escalar a tabela dos mais populares, num jogo de influências que deturpará todo o objetivo da comunidade.

Talvez por isso há quem desconfie da plataforma e prefira continuar a privilegiar o contacto direto com editores e agentes ou então escolher a via da auto-edição. Não obstante, a comunidade authonomy.com é, sem sombra de dúvida, um passo em frente na adaptação das editoras aos novos tempos em que as redes sociais imperam no mundo virtual da internet.

Catarina Araújo, escritora e assessora de comunicação

3/15/2013

O fim da boa-vontade

Regressando ao tema do valor dos livros, falo hoje do fim da boa-vontade (goodwill) enquanto elemento variável do valor que atribuímos ao livro.

Tal como no clássico juvenil «Lemony Snicket», faço  o aviso à navegação de que este é um post mais técnico e que, se isso vos aborrece, não percam tempo a lê-lo.

Para quem não sabe, a goodwill é, de facto, e em contabilidade, um dos elementos de variabilidade do processo de criação de valor. Fazendo parte do património intangível detido, podendo surgir através da confiança na marca (editor, autor, etc.) ou, como durante muitas centenas de anos aconteceu, através da reputação do próprio produto (relação do produto com o cliente).

Contrariamente a muitos outros produtos, o livro detinha uma reputação de fidedignidade, de credibilidade. O que estava escrito era mais importante e verdadeiro – patente em múltiplas áreas da sociedade, desde a legislação, passando pela religião e terminando na literatura ou ficção. Por outro lado, o valor do livro tinha em conta a perenidade dessa informação e o chamado «valor de troca», ou seja, havia a ideia de que com a leitura de um livro nós estaríamos a aumentar a nossa capacidade de realizar outras ações que nos valorizassem posteriormente (o livro enquanto ferramenta da educação, da cidadania, do aumento das competências de trabalho). O próprio livro de literatura era visto assim, como capaz de alargar horizontes e aumentar a nossa capacidade (criativa?, esquemática?, relacional?, comunicacional?) para ascender a cargos superiores e mais bem remunerados.

Escusado será explicar como, em muito larga medida, isso terminou.
Terminou por múltiplos motivos: o mundo digital e o fim dos mediadores tradicionais – patente na morte da imprensa −; a velocidade da informação como primeiro determinante na formação da reputação; o excesso de informação e de textos disponíveis; a inversão de alguns dos critérios de publicação – star system strategies, fast publishing strategies; interplatform publishing and intermedia produt development; frontlist strategies, ou até estratégias de ajustamento/ocupação do mercado, como multiple short seller strategies (ou seja, usamos o nosso esforço de investimento para empurrar o canal, criando escala e fazendo com que ele dependa de nós e afaste os outros, que é uma forma de aldrabar sem que a Autoridade da Concorrência possa processar...) –, etc.

A verdade é que hoje o livro já não, na maior parte das vezes, visto como um objeto «especial», onde o dinheiro é menos importante do que aquilo que ele representa, aquilo que ele nos dá. Para o cliente, o custo tornou-se mais importante do que aquilo que achamos que é, inverteu-se a ordem da avaliação do produto.

Não digo isto com tristeza, muitas são também as alterações que este novo paradigma traz, algumas delas vantajosas, permitindo a renovação de critérios obsoletos. Desde logo, o mercado atual alterou a sua hierarquização qualitativa anterior – salão dos famosos / salão dos excluídos – e outros critérios (melhores? piores?) se levantam: valorização da novidade face à qualidade (onde os jovens autores são mais «badalados» do que os experientes); reputação assente na imagem pública e a criação integrada de conceitos de global de comunicação (onde o autor não é só o autor, mas uma figura pública, com opinião pública, manias e outras características vendáveis, tendo de revelar gostos e detalhes privados para alimentar a curiosidade e da fixação das pessoas); mas também a criação de nichos de «sucesso», e o crescimento das categorias dispersas.

O que importa aqui referir é que, para a larga maioria da população – lembremo-nos que o valor é consumer driven, e cada leitor é diferente − livro já não vale por ser um livro, mas está no mercado como mais um produto, sem características que o elevem acima de outros produtos.

Eu sei, senhores revisores e linguístas, que teve imensas orações copulativas e adversativas, mas pelo menos evitei notas de rodapé :-)

Nuno Seabra Lopes

3/12/2013

«Projecto Adamastor»

Imagem retirada do site do Projecto Adamastor

É normal ter medo do que aí vem, tecer imagens de monstros marinhos que destruirão as caravelas que nos levaram já tão longe. Mas ao invés de temermos o Adamastor, devemos enfrentá-lo e percebê-lo, sabendo que mais além teremos recompensas maiores.

Não, não tenho dotes camonianos, mas conheço um lugar onde qualquer um de nós pode, gratuitamente, fazer download de obras portuguesas, em domínio público, no formato EPUB, de forma totalmente gratuita.

O «Projecto Adamastor» criado por (pelo menos) Ricardo Lourenço e Adeselna Davies, tem um objetivo muito claro: colmatar o défice de obras em ebook, em língua portuguesa. Para isso disponibilizam clássicos da nossa literatura, devidamente revistos e paginados, para que possamos ler nos nossos tablets, ereaders, smartphones, etc. E, como já disse, de forma totalmente gratuita.

Entre os primeiros livros estão Eurico, o Presbítero, de A. Herculano, Livro de Soror Saudade, de Florbela Espanca e O Banqueiro Anarquista, de F. Pessoa.

Poderíamos pensar que este deveria ser o papel das nossas bibliotecas públicas, o que não seria de todo errado. Mas a verdade é que já o mercado digital vai além da Taprobana e a língua portuguesa se encontra ainda a conversar algures no Restelo e, nem o Estado, nem as empresas do sector – que poderiam disponibilizar essas obras como parte da política de atração de clientes às suas possíveis plataformas digitais – o fizeram. Por isso, consideremos este como um ato raro de cidadania no nosso país.

Como todos os projetos desta natureza o voluntariado é importante. Por isso, se quiserem ou puderem ajudar, contactem através do geral@projectoadamastor.org.

Senão, usufruam através deste link.

3/06/2013

O que é ser editor


Trabalhando em edição há mais de 13 anos – e conhecendo ou sendo amigo de uma muito significativa parte dos profissionais – sei que irei dizer aqui coisas que irão magoar algumas pessoas. No entanto – e não sendo uma questão pessoal –, este ponto merece alguma reflexão.

Ser editor é ter a capacidade extraordinária de fazer duas coisas:
  • Criar um bom catálogo;
  • Criar bons livros.

Dito assim até parece simples, mas desenganem-se aqueles que julgam que assim é.

Criar um bom catálogo é ter a capacidade de associar vários elementos e conhecimentos. Ter uma perceção clara do que se quer publicar (com coerência, cumprindo as expectativas dos leitores e da imprensa), ter a capacidade de «encontrar» os livros certos, e publicá-los para um grupo alargado de leitores capaz de rentabilizar o negócio e fazê-lo prossegui-lo.

Ser editor não é receber catálogos (ou sentar-se à mesa com o agente), escolher de uma lista limitadíssima de produtos genéricos que representam menos 0,5% do que foi publicado no mundo – valor extrapolado por mim −, comprando somente porque tem boas tendências de venda internacional, selos interessantes na capa (prémios, etc.), temas que andam a circular no programa Querida Júlia, e muitas editoras interessadas em comprar.

Ah, e porque leram e até acharam piada, o que para o gestor de marca ou o diretor comercial, ou de marketing, nem interessa por aí além.

Ser editor também não é publicar «maçãs» e, oh!, não deu, vamos agora tentar «peras», ou «quivis». Isso revela que não se sabe nada do se publica, que não se sabe ler, que se é só mais um «comercial» com óculos de massa e cotoveleiras que trabalha na fase anterior, procurando descobrir o próximo bestseller.

Quanto ao ponto a) estamos conversados. Em relação ao ponto b) a questão é ainda mais complexa...

Devo começar por diferenciar dois tipos de trabalho com os livros: trabalhar produtos estrangeiros, já construídos e finalizados para esses mercados, ou com produtos nacionais em bruto. Não desmerecendo o trabalho com livro estrangeiro, criar livros de raiz é bem mais complexo e entusiasmante, e revelador das verdadeiras capacidades do editor.

Não quero com isso dizer que fazer livros estrangeiros seja trabalhar com produtos simples, não é só saber descongelar, meter no forno e dar-lhe uma boa apresentação – sim, por ora já viram que sou fascinado por cozinha −, pois é um trabalho complexo envolvendo a possível adaptação necessária, escolha e controlo da tradução e da revisão, bom layout de paginação e design e uma capa interessante – caso não se compre a original. As diferenças entre fazer isto bem ou mal são mais do que visíveis no nosso mercado. Mas recordemo-nos que a edição é uma indústria, e ser editor é trabalhar na primeira fase dessa indústria: a de investigação e desenvolvimento. Comprar maquetas e ajustá-las pode ser difícil e interessante, mas não é tão entusiasmante ou revelador das capacidades criativas de um editor.

Editar é olhar para o mercado e pensar nos produtos. Saber como se constitui um livro e que ferramentas servem para quê de modo a criar e recriar o livro certo da forma ideal.

Em termos de trabalho com autores não é só ter a capacidade de dizer «gosto», «não gosto» ou «trabalha mais», é preciso saber especificar: que esta personagem tem este e aquele problema que pode ser resolvido desta e daquela forma; que este capítulo estraga o ritmo; para meter uma peripécia e aliviar a tensão; para abordar este tema ou um outro; de refletir sobre algumas questões; para cortar as frases e acelerar o ritmo; não usar terminologias que não funcionam; pedir para mudar o cenário; tirar adjetivos; eliminar «bengalas», etc. É ter a capacidade de ajudar os autores: fazer brainstorming de abordagens a temas, trazer exemplos de resolução de outros casos, arranjar material de consulta e informação adicional para estimular ideias, chatear os autores para que eles trabalhem.

Ser verdadeiramente editor é ter a capacidade de fazer mais. É ser-se um cozinheiro. Pensar nos livros antes de eles existirem, escolher cuidadosamente os ingredientes e saber juntá-los (quem escreve, o que escreve, como escreve, que abordagem ter, como organizar o livro, que extratextos necessita, quem os faz, como deve ser o design, a paginação, o formato, etc.). E isso é muito difícil. É preciso saber-se exatamente o que se quer, e como se quer para que o público goste e compre.

Podem dizer: e tempo, hein!? Pois, de facto falta muitas vezes o tempo, as competências e a formação, e até a leitura necessária ou a capacidade crítica, entre várias outras coisas.

Mas, ser editor não é ser revisor. Ser editor não é ser tradutor. Ser editor não é ser paginador. Para coordenar estas tarefas de produção um estagiário bem orientado faz milagres, enquanto se prepara para a fase seguinte, a de ser editor. Se perdermos menos tempo com tantos livros para queimar e tarefas que pouco valor acrescentam – «esta vírgula fica bem aqui?» −, talvez tenhamos tempo «a perder» para estas tarefas que são as únicas capazes de criar valor e livros que valham a pena e possam ser um sucesso. Como queremos ter sucesso com livros feitos em cima do joelho?

Ter produtos nossos, mais lógicos e pensados para o nosso mercado é essencial. Um apfelstrudel pode até ser um doce maravilhoso que meia dúzia de pessoas compram em Portugal, no Lidl, congelado, mas a quantidade de pessoas a comer pastéis de nata é bem maior em Portugal, e parece que lá por Belém até os turistas fazem fila. Afinal de contas, ninguém viria cá para comer um apfelstrudel.

Nuno Seabra Lopes

3/04/2013

Considerações sobre as plataformas de ebooks nacionais

Há uns tempos assisti a uma apresentação acerca da Music Box, por Celestino Alves. Para quem não conhece, trata-se de um serviço em que um cliente paga uma mensalidade e permite-lhe ouvir toda a música que quiser em streaming em diversos aparelhos e fazer um número limitado de dowloads legais por mês.

Durante essa apresentação, o CEO da NMusic defendeu que o que os utilizadores mais davam valor no download ilegal de músicas não era a gratuitidade, mas sim a simplicidade. O que ele fez foi criar um serviço de aquisição que fosse ainda mais simples e com maior valor acrescentado que os sitei de «torrentes» e download ilegais.

Inevitavelmente, pensei no mercado de ebooks, que muitos temem que descambe no dowload ilegal e sem recompensa para os editores e escritores.

Imaginemos que quero comprar um ebook.
Tenho duas grandes plataformas em Portugal a Wook e a Kobo by FNAC.
Em primeiro lugar, a Kobo by fnac não permite pesquisar por língua. Ou seja, ou sabemos muito bem o livro que queremos ou somos obrigados a vasculhar no meio de livros em inglês e outras línguas. Para além de não permitir que o utilizador descubra novos livros que vão ao encontro aos seus gostos. Será assim tão difícil meter uma opção para ir verificar à metadata do livro?

Quando finalmente encontramos o livro que queremos, procedemos para o pagamento, descobrindo que temos de usar paypal ou cartão de crédito, sendo que o último muita gente não tem. Porque não a utilização de transferência bancária? Claro que transferência bancária para a Kobo (que não é portuguesa) traria burocracia adicional, mas é para isso que a FNAC serve, para ser o intermediário entre nós e a Kobo. Pode-se argumentar que existem serviços que permitem a criação de cartões de crédito virtuais, mas isso vai choca com a simplicidade que se exige neste tipo de plataformas.

Outro dos problemas que encontrei nesta plataforma é a da FNAC não ter desconto de 10% nos ebooks, nem promoções, nem ser abrangido durante o Dia do Aderente. Aliás, a FNAC só serve como revendedor dos aparelhos da Kobo e mais nada, havendo separação por completo entre os produtos físicos e os produtos digitais. No próprio site da FNAC, quando se carrega na ligação para comprar o ebook, em vez de o adicionar ao "carrinho de compras", redirecciona o utilizador para outra página. Por sua vez, no site da Kobo, não existe ligação que permita um utilizador que esteja a ver ebooks aceda à compra do respectivo livro físico.

São opções comerciais que podem sair caras a partir do momento que qualquer outra plataforma tiver uma ligação mais estreita com uma empresa com superfície comercial.

O Wook é bem pior do ponto de vista do utilizador.
Embora os livros disponíveis estejam quase todos em português tem um sistema de bradar aos céus. Em muitos dos livros que compramos não permitem descarregar para a memória do computador pessoal. O livro fica no site, disponível para leitura usando software que só dá para instalar em tablets, impossibilitando os possuidores de e-readers (kindle, kobo, etc...) de ler esse mesmo livro nos seus dispositivos. O facto de não podermos instalar no PC é uma opção de muito má-fé em relação aos leitores, uma vez que o cliente nem sequer tem direito ao ficheiro pelo qual pagou. Estamos a pagar para ler um ficheiro que nunca estará no nosso lado da relação, que não podemos modificar nem converter, nem nada. Sem dizer que a wook não tem livros grátis. Se os tivessem podiam ir cativando os leitores até eles desejarem comprar outros livros mais recentes e «populares».

Existe ainda a plataforma da Leya, que é, de longe, a melhor de todas, mas só tem livros da Leya e que, aos poucos, está a ficar contaminada com livros dos Escrytos. Penso que os editores independentes e edições de autor têm um espaço importante no mercado dos ebooks, no entanto, considero que a abordagem da Leya não é a que mais favorece qualquer um dos dois mercados. Mais uma vez, falta um melhor sistema de pesquisa que permita jogar com várias preferências do leitor como preço, temática, edição de autor ou não, editora, etc.

As editoras têm uma oportunidade de agarrarem o mercado digital antes que este lhe fuja das mãos, mas parece preferir a abordagem de «um livro digital nunca será tão bom como um físico». Os discos de vinil também são superiores ao CD e MP3 e hoje em dia ainda se vendem. Talvez o mercado dos ebooks faça renascer o mercado dos livros de capa dura e acabamentos de luxo.

Claro que é preciso coragem, empreendedorismo e um grande planeamento. Poderemos citar grandes oportunidades a referir como, por exemplo, existe a possibilidade de «fugir» aos 45% para o distribuidor/revendedor, assim como à política de vendas das grandes superfícies e a possibilidade de arriscar mais em temáticas e autores.

Carlos Eduardo Silva

3/01/2013

Com pés e cabeça

No colofão do livro "Sem pés nem cabeça": 


A terceira edição d'este livro se concluiu a dez de Agosto de mil novecentos e vinte... André Brun o escreveu com a graça de Deus e a que tem... Guimarães e C.ª o editaram... A imprensa de Manuel Lucas Torres, sita na R. do Diário de Notícias, 61, o compôz e imprimiu... O público o comprará...

 Fonte: http://conversamuitaconversa.blogspot.pt/2012/05/o-meu-primeiro-fato-de-mascara-por.html