3/04/2013

Considerações sobre as plataformas de ebooks nacionais

Há uns tempos assisti a uma apresentação acerca da Music Box, por Celestino Alves. Para quem não conhece, trata-se de um serviço em que um cliente paga uma mensalidade e permite-lhe ouvir toda a música que quiser em streaming em diversos aparelhos e fazer um número limitado de dowloads legais por mês.

Durante essa apresentação, o CEO da NMusic defendeu que o que os utilizadores mais davam valor no download ilegal de músicas não era a gratuitidade, mas sim a simplicidade. O que ele fez foi criar um serviço de aquisição que fosse ainda mais simples e com maior valor acrescentado que os sitei de «torrentes» e download ilegais.

Inevitavelmente, pensei no mercado de ebooks, que muitos temem que descambe no dowload ilegal e sem recompensa para os editores e escritores.

Imaginemos que quero comprar um ebook.
Tenho duas grandes plataformas em Portugal a Wook e a Kobo by FNAC.
Em primeiro lugar, a Kobo by fnac não permite pesquisar por língua. Ou seja, ou sabemos muito bem o livro que queremos ou somos obrigados a vasculhar no meio de livros em inglês e outras línguas. Para além de não permitir que o utilizador descubra novos livros que vão ao encontro aos seus gostos. Será assim tão difícil meter uma opção para ir verificar à metadata do livro?

Quando finalmente encontramos o livro que queremos, procedemos para o pagamento, descobrindo que temos de usar paypal ou cartão de crédito, sendo que o último muita gente não tem. Porque não a utilização de transferência bancária? Claro que transferência bancária para a Kobo (que não é portuguesa) traria burocracia adicional, mas é para isso que a FNAC serve, para ser o intermediário entre nós e a Kobo. Pode-se argumentar que existem serviços que permitem a criação de cartões de crédito virtuais, mas isso vai choca com a simplicidade que se exige neste tipo de plataformas.

Outro dos problemas que encontrei nesta plataforma é a da FNAC não ter desconto de 10% nos ebooks, nem promoções, nem ser abrangido durante o Dia do Aderente. Aliás, a FNAC só serve como revendedor dos aparelhos da Kobo e mais nada, havendo separação por completo entre os produtos físicos e os produtos digitais. No próprio site da FNAC, quando se carrega na ligação para comprar o ebook, em vez de o adicionar ao "carrinho de compras", redirecciona o utilizador para outra página. Por sua vez, no site da Kobo, não existe ligação que permita um utilizador que esteja a ver ebooks aceda à compra do respectivo livro físico.

São opções comerciais que podem sair caras a partir do momento que qualquer outra plataforma tiver uma ligação mais estreita com uma empresa com superfície comercial.

O Wook é bem pior do ponto de vista do utilizador.
Embora os livros disponíveis estejam quase todos em português tem um sistema de bradar aos céus. Em muitos dos livros que compramos não permitem descarregar para a memória do computador pessoal. O livro fica no site, disponível para leitura usando software que só dá para instalar em tablets, impossibilitando os possuidores de e-readers (kindle, kobo, etc...) de ler esse mesmo livro nos seus dispositivos. O facto de não podermos instalar no PC é uma opção de muito má-fé em relação aos leitores, uma vez que o cliente nem sequer tem direito ao ficheiro pelo qual pagou. Estamos a pagar para ler um ficheiro que nunca estará no nosso lado da relação, que não podemos modificar nem converter, nem nada. Sem dizer que a wook não tem livros grátis. Se os tivessem podiam ir cativando os leitores até eles desejarem comprar outros livros mais recentes e «populares».

Existe ainda a plataforma da Leya, que é, de longe, a melhor de todas, mas só tem livros da Leya e que, aos poucos, está a ficar contaminada com livros dos Escrytos. Penso que os editores independentes e edições de autor têm um espaço importante no mercado dos ebooks, no entanto, considero que a abordagem da Leya não é a que mais favorece qualquer um dos dois mercados. Mais uma vez, falta um melhor sistema de pesquisa que permita jogar com várias preferências do leitor como preço, temática, edição de autor ou não, editora, etc.

As editoras têm uma oportunidade de agarrarem o mercado digital antes que este lhe fuja das mãos, mas parece preferir a abordagem de «um livro digital nunca será tão bom como um físico». Os discos de vinil também são superiores ao CD e MP3 e hoje em dia ainda se vendem. Talvez o mercado dos ebooks faça renascer o mercado dos livros de capa dura e acabamentos de luxo.

Claro que é preciso coragem, empreendedorismo e um grande planeamento. Poderemos citar grandes oportunidades a referir como, por exemplo, existe a possibilidade de «fugir» aos 45% para o distribuidor/revendedor, assim como à política de vendas das grandes superfícies e a possibilidade de arriscar mais em temáticas e autores.

Carlos Eduardo Silva

5 comentários:

  1. Creio que existe um grande equívoco na avaliação que o autor deste texto faz da solução para ebooks da Wook.pt: ao contrário do que refere, nem no PC nem nos dispositivos móveis é instalada coisa alguma, porque se trata de um "Web Reader" (a Amazon tem um e a Kobo também), ou seja, o "leitor" é o browser. E também é falso que os livros não possam ser acedidos quando está desconectado - pode lê-los na "cloud" ou alojá-los no seu dispositivo para leitura num contexto em que não tenha acesso à Internet. E a a Wook também já ofereceu, muito recentemente, livros gratuitos - e não eram "fundo de catálogo! Talvez fosse importante fazer o "trabalho de casa" antes de fazer afirmações falsas. Mas tendo em conta a menção de que a solução da Leya "é, de longe, a melhor de todas" diga tudo sobre a isenção do escriba.

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  2. Olá, talvez não tenha conseguido ser claro. Permite-me a defesa do que escrevi:

    Ora um browser é um software que está instalado no computador, ou tablet. Se tentar usar o browser do kindle para ler livros da Wook não funciona de todo bem. Daí a queixa de não haver um software 100% compatível com ereaders.

    Não me lembro de ter escrito que não se podiam ler os livros offline. Disse apenas que existem livros que não podem ser guardados na memoria do PC, como por exemplo os 2 livros que eles ofereceram há pouco tempo.

    Já ofereceu livros, mas foi uma promoção. Não se trata do "dia-a-dia" do site, ao contrário dos outros dois.

    Para mim, dos vários sistemas que vi, o melhor foi o da Leya. É a minha opinião apenas como consumidor. Não tenho qualquer afiliação ou vantagem junto da editora. Já emiti até opiniões desfavoráveis em relação a estratégias da mesma. Penso que posso considerar-me isento.

    Fico feliz que esteja contente com a sua experiência com a Wook e obrigado por apontares partes onde fui menos claro.

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  3. Eu utilizei uma vez um vale de desconto da Wook para comprar através do e-wook reader (o vale só dava para este formato) e até hoje não sei como colocar no meu e-reader :|

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  4. Carlos, concordo praticamente em tudo contigo em relação aos sites e, tendo experimentado os três, acho que que a mediabooks e a Kobo são, para já as melhores, embora nenhuma das duas seja perfeita.
    A wook tem uma grande selecção, mas até agora recusei-me a comprar ebooks lá porque não estão disponíveis em epub (ou outros formatos acessíveis) e só podem ser lidos com o software deles (quer online, quer offline). Eu se pago por um ebook, quero tê-lo, poder guardar cópias de segurança e convertê-lo para ler no meu ereader, caso ele não exista no formato eu quero. Não sei se a wook está a pensar alterar isso (ou talvez já tenha alterado, não sei porque ultimamente não consultei) mas deviam fazê-lo. Pois assim eu começaria a comprar ebooks por eles.

    Noutra nota, sinceramente não me faz confusão a Kobo só aceitar pagamento por paypal ou cartão de crédito. Fazer um cartão de crédito virtual é muito simples.

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  5. O wook tem alguns limites que precisam ser corrigidos. A navegação (notas, texto, p.ex) é bem limitada. A possibilidade de sublinhar e fazer notas, depois recuperá-las em texto, pelo que percebi, inexiste. Ou estou mal informado. Isso empobrece bastante o leitor. Bastante.

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