6/12/2013

DRM’s , ou como se poderia dizer, Digital Restelo Men’s


Se há algo que temos a certeza é que a ganância é muita e faz parte do negócio.

Se ela serve para garantir que conseguem rentabilizar um investimento muito avultado e cheio de risco, ou um futuro de milhões na conta bancária e adversários falidos, pouco importa, o que sabemos é que as estratégias de desenvolvimento de ereaders/ebooks por parte dos principais retalhistas internacionais assentam em ecossistemas fechados e fortemente protegidos, que impedem em larga medida a importação e exportação (ou a leitura) de ficheiros de outros ecossistemas nos seus, ou dos seus noutros ecossistemas.

Não se trata de DRM para proteção dos direitos de autor e combate à pirataria, muitas vezes sobre essas proteções existem muitas outras encriptações que visam tão-somente impedir que o leitor possa, de facto, usufruir do seu ebooks noutro leitor que não o da sua empresa.

Para além disso, afastam de vez o retalho que, mesmo que quisesse vender ebooks, não o poderá fazer sem o seu controlo. Detendo o produto – muitas vezes desde a origem, englobando imprints próprias −, o leitor (leia-se, o interface tecnológico de mediação da leitura) e o canal de distribuição e venda, garantem o monopólio total. Se o futuro é digital não tem de ser, no entanto, um futuro fechado no mundo Amazon ou Apple.

Aliás, se não queremos ver surgir uma «justificação moral» para a pirataria, é bom que não o seja.

Tão importante como os desenvolvimentos e implementação do EPUB3 e respetiva interoperabilidade, importa também perceber como queremos manter uma estrutura de produção e retalho saudável, capaz de responder em concorrência a diferentes públicos e necessidades, adotar e desenvolver estratégias diferentes e permitir a entrada de agentes de inovação. Uma estrutura que permita o input dos agentes locais e não uma estrutura massificada interessada em responder tão-somente aos «grandes públicos» e escravizar, em todo o restante mercado, os agentes que possam complementar esse seu mercado.

Neste mercado de forte desenvolvimento estamos cada vez mais nas mãos de agentes que não se interessam no desenvolvimento em prol do leitor, mas somente na medida da capacidade que têm de gerar riqueza com ela. Ao fecharem os seus sistemas comportam-se como velhos digitais do Restelo, com medo que um mercado honesto, aberto e simples para o leitor possa ditar o fim das suas hegemonias.

Nuno Seabra Lopes

5 comentários:

  1. E outra coisa que é ridícula é o facto de muitas vezes não poder comprar um livro digital de outro país. O outro dia tentei comprar um livro digital brasileiro e não pude, porque ele só está disponível para brasileiros.

    Se fosse um livro físico eu podia importá-lo através de uma livraria, porque não no digital?

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  2. Infelizmente o objectivo deles não é facilitar a vida aos clientes ou desenvolver o digital, mas só «arrasar» a concorrência e controlar o mercado.

    Apesar de não terem sido eles a «inventar» essa questão dos territórios (cujo papel da Carmen Balcells é sobejamente conhecido), a guerra da «Turfa», como é conhecida no mundo anglosaxónico, tem estas consequências parvas.

    Sim, é absurdo não se poder comprar um livro diferente (porque é sempre diferente) no Brasil. Se lá estivermos de férias já não há problema, mas se o IP for de cá, já é proibido...

    Se a edição portuguesa for genial e a brasileira péssima (ou vice-versa) temos de «gramar» com a porcaria, mesmo havendo algo melhor.

    Nos livros físicos sempre havia a importação, pelo menos.

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  3. Embora em termos concretos e legais essa importação, caso o contrato e os direitos territoriais o especifiquem, também deveria ser ilegal.

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  4. Eu compreendo a questão Hugo, mas isso da ilegalidade é muito relativo, tanto que surge por uma questão contratual e não legislação concreta.

    Não é ilegal alguém quebrar um contrato, tem é consequência definidas e previstas nesse mesmo contrato. Para além disso não há nada que impeça alguém (leitor) de poder adquirir o livro, mas infelizmente tem de se sujeitar às regras do canal - ou ir até ao Brasil e comprar lá.

    Recorda-te igualmente que, muitas vezes, não existe uma outra edição em Portugal mas os sites assumem por defeito o território como estando excluído. Na prática estão a prejudicar o leitor.

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  5. Aliás, já não é o primeiro livro em inglês que tento comprar em digital (e garanto-te que não existe qualquer outra versão em português e, mesmo se existisse, deveria ter o direito de querer ler em inglês) e não posso.

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