8/22/2013

ÓBIDOS: VILA LITERÁRIA



Há pessoas que criticam, pessoas que falam, pessoas que se calam e pessoas que fazem. José Pinho pertence ao último destes lotes.

Desde há muitos anos um dinamizador do conceito de livrarias, tem a experiência e o passado necessário para entender o que pode ou não funcionar, trabalhando com a cautela que o mercado necessita, mas sem o medo que o país exala.

O seu mais recente projeto é sinal disso. Contracorrente (ou talvez não), José Pinho pegou na ideia já antiga (referida por Zita Seabra, há alguns anos) de criar uma livraria na Igreja desativada de Óbidos; mas quis transformar o projeto em outra coisa mais: uma vila literária.

Mas de todas as livrarias, José Pinho optou por uma livraria de fundos em Óbidos.
Uma livraria de fundos em Óbidos? – pensaram todos. Nem em Lisboa existe projeto com esta dimensão e as mais conhecidas tentativas – Byblos – foram disparates de investimento que traziam «Ruína» estampada no lobby.

Se uma livraria de fundos não funcionou em Lisboa, porque funcionará em Óbidos, perguntam? Porque não? A questão da localização é bem mais complexa de definir do que há partida se pode supor. Hay-on-Wye também não faz sentido e, no entanto, é um sucesso. Os fatores que determinam o sucesso não podem ser encontrados só na centralidade dos espaços de venda, mas também no modelo de negócio (e de custos) em que tal for montado. A nova vila literária é um projeto assente em parcerias, assente em animação, assente em tentar fazer coisas num país que parece desligar-se.

Acima de tudo, este é um projeto que merece o apoio. Não pela ousadia (que é bastante), mas pela ação em si que ao invés de ser idílica é somente ousada, por tentar fazer algo que por parecer messiânico mas é, de facto, pensado e pode resultar, tornando-se num exemplo para o resto do país.

E será de louvar que José Pinho contribua para a tentativa real de, na sua pequena dimensão, salvar este país do seu mais cruel destino: a mediocridade.

Nuno Seabra Lopes

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