5/29/2013

Os editores e a auto-edição


Há uns meses, no seu blogue «Horas Extraordinárias», a editora Maria do Rosário Pedreira questionava-se sobre a auto-edição e o aparente desinteresse de alguns escritores em tentarem publicar a sua obra através de uma editora tradicional capaz de reconhecer ou não a qualidade da sua escrita. No fim concluía que talvez isso acontecesse porque, na auto-edição, recebiam uma percentagem maior das vendas e que, por isso, mais do que o reconhecimento de um editor, preferiam o dinheiro.

No fundo, todos aqueles que gostam de escrever e até aqueles que gostavam de escrever, mas sentem que não têm talento suficiente, sonham em publicar um livro através de uma editora reputada. Contudo, como é natural, esse sonho não está ao alcance de todos, seja porque não tiveram a sorte de encontrar um editor que tomasse a decisão de arriscar neles, seja por, apesar de terem técnica, lhes faltar originalidade, seja porque simplesmente não têm qualquer talento.

A auto-edição digital funciona para essas pessoas como uma espécie de oportunidade de porta de fundo. Não se entra pelo portão da frente, mas entra-se pelas traseiras. Ao menos entra-se, na esperança de obter dos leitores o reconhecimento que lhes foi negado pelos profissionais da área e que essa validação seja suficiente para chamar a atenção de um editor.

É verdade que a auto-edição digital oferece um controlo maior ao autor, na medida em que lhe possibilita ir reeditando as suas obras, alterar o preço e mudar a capa conforme vai necessitando, para atrair a atenção de mais e mais leitores. Mas será que vale a pena? O facto de o autor ser o seu próprio editor, designer, comercial, etc., também tem as suas consequências, retirando-lhe o tempo e a energia de que necessita para continuar a escrever as suas obras.

Não creio de todo que a maior parte destes escritores autopublicados escolha esse caminho por dinheiro, embora acredite que haja quem o faça pela ilusão do lucro. Acredito também que há quem apesar de ter sido abordado por uma editora prefira manter todo o controlo sobre as suas obras, seja por dinheiro, seja por recear que as expectativas da editora não se cumpram e que os seus livros acabem na obscuridade.

No meu caso, como autora com livros publicados por editoras, ao ver-me na situação em que os meus livros já não estavam disponíveis nas prateleiras das livrarias, e não havendo versões em ebook dessas obras, escolhi a via da autopublicação digital para que não desaparecessem, como se nunca tivessem existido. Era quanto a mim trabalho desperdiçado, porque de facto houve ali muito trabalho tanto do autor, como do editor. O desejo de qualquer autor é que as suas obras sejam lidas e não sejam esquecidas.

Seja qual for a motivação individual de cada um, alguns escritores autopublicados rendem-se por fim às evidências e acabam por desistir, outros, convictos do seu talento, persistem e colhem os seus frutos, contentes com a sua situação. Entre esses haverá quem eventualmente sobressaia de tal forma que atrai a atenção dos profissionais dos livros.

Posto isto, assim como de repente apareceram muitos aspirantes a autores, também apareceram muitos novos editores, pelo que poderá haver aqui alguma desconfiança de escritores mais escrupulosos relativamente às condições oferecidas pelo editor, e que os levam a preferir manterem-se na auto-edição. Como em todas as áreas, também na edição há bons e maus editores. Contudo, há de haver sempre quem deseja encontrar, ainda que pela porta das traseiras, o editor profissional perfeito para os seus livros.

Catarina Araújo

2 comentários:

  1. A realidade, Catarina, é que quem escreve e escreve por gosto, não se importa de não ser editado (e tantas vezes não o procura) até um dia... até o dia em que não deixa de escrever por esse motivo, mas até ao dia em que quer ter algum tipo de retorno ou uma espécie de afago, de motivação extra... e aí todos os meios são bons... para procurar o seu público. O dramático não é quando se escreve por gosto...mas por uma espécie de ambição de reconhecimento, como se o reconhecimento não o devêssemos começar a procurar em nós próprios. Parece contraditório? Talvez!

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  2. É um absurdo dizer que os escritores escolham o caminho da autopublicação por dinheiro. Recebem uma percentagem maior pelas vendas, mas acabam por vender pouquíssimo, pois não dispõem da máquina de marketing das editoras. E, quem vende muito, prefere ficar na editora, pois, como a Catarina diz, ser o seu próprio editor, designer, comercial, etc. rouba tempo e energia.

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