7/01/2013

A promoção do livro em tempos de crise


Diz-se que estamos em crise há muito tempo. Mas a crise de 2008 veio agravar esse sentimento que deixou de ser apenas um sentimento para se tornar em algo verdadeiramente palpável, com consequências que antes apenas se temiam e entretanto se tornaram realidade.

É pois uma realidade incontornável. Vendem-se menos livros, as distribuidoras entram em falência, as livrarias fecham, as editoras lutam para se manterem num mercado que nos últimos anos parece ter caído nas redes do capitalismo selvagem. A pirataria e o digital não ajudam. Um sem número de novas aplicações para telemóveis e de novas plataformas proliferam sem que as editoras e as livrarias tenham capacidade para acompanhar esse crescimento e usá-las em seu proveito. A crise também não permite grandes investimentos que visem esse objetivo. Recorre-se aos métodos tradicionais para a promoção e venda de livros. Porém, os leitores dispersam-se pelas tais plataformas, pelas redes sociais, pelas aplicações de telemóvel, tornando-se cada vez mais difícil chegar até eles.

Como se consegue atrair a atenção dos leitores com um orçamento limitado e com a multiplicação de espaços virtuais onde é quase obrigatório estar presente? Como conseguir nesta altura que o lançamento de um livro seja um sucesso e que as vendas se prolonguem para além do primeiro mês? Como ganhar a fidelidade dos leitores mantendo uma linha editorial coesa ao mesmo tempo que se enfrenta uma crise?

Estas são perguntas que não têm resposta fácil. Dependerá da estratégia de cada editor ou do livreiro, da sua capacidade para se adaptar aos diferentes desafios que se colocam e, sobretudo, da sua capacidade de inovar e de vender aquilo que não parece à partida vendável por diversos motivos, à falta de um Best-seller. Gostamos de pensar que os bons livros vendem por si ou pelo menos deviam. Todavia, num mercado dominado e regulado pelos Best-sellers, que não são necessariamente bons, os bons livros correm o risco de passar despercebidos, por preconceito dos próprios editores, dos comerciais, dos livreiros. Entre o estalar da crise em 2008 e o rebentar da grande crise de 2011, o sucesso do livro 2666, de Roberto Bolaño, de mais de mil páginas e com um preço a chegar perto dos trinta euros, parece um fenómeno bizarro, mas aconteceu devido a uma estratégia ousada que gerou um buzz de tal forma intenso junto dos leitores que até levou a que fosse um dos livros mais roubados do ano. A paixão dos editores pelo livro e pelo autor transpareceu e colou-se aos leitores. Isto numa altura em que as redes sociais ainda não tinham tanto impacto junto do público, como tem hoje. Ou como já teve, porque nem a mera presença no Facebook ou no Twitter será já tão eficaz.

Um exemplo mais recente que me parece ser de sucesso é a Divina Comédia Editores, lançada há pouco tempo, com grande circunstância e com bom eco na web e na imprensa em geral. Trata-se de uma editora muito ativa, com grande proximidade, e bastante dinâmica tanto na sua autopromoção, como na divulgação dos seus livros. Ficam ainda por confirmar as repercussões para o futuro.

Transformar constrangimentos em oportunidades, contornando orçamentos mais limitados, passará talvez por uma relação de proximidade, com o aproveitamento ainda das redes sociais, não só do Twitter e do Facebook, mas também do Instagram, do Pinterest, entre outros, de uma forma talvez menos rígida e mais aberta, convidando o leitor a conhecer a editora e a sua equipa e a razão pela qual trabalham aqueles livros. Igualmente, a criação de um clube de leitura ou a marcação de apresentações ajudará a criar uma ligação emocional à editora ou à livraria que leve os leitores a conhecer e a confiar mais na sua promoção. Portanto o maior investimento que se pode fazer, num tempo crítico como aquele que atravessamos, será mais ao nível do marketing humano do que propriamente em grandes campanhas que acabam por ter um efeito efémero.

Não existe com certeza uma fórmula mágica, nem um segredo definitivo para se ser mais bem-sucedido num mundo em constante mudança e com os apertos do momento. A única tecnologia com que podemos contar no final das contas é pois com a criatividade de cada um para fazer muito com pouco.

Catarina Araújo

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