Se acham que vou falar dos livros do José António Saraiva, da
Bíblia de Gutenberg ou das 95 teses de João Calvino estão muito enganados. No
seu tempo estes livros mudaram o mundo e, também, a edição, mas nada que se
compare com estás pérolas editoriais, responsáveis pela mais recentes mudanças
no mundo da edição. Senão vejamos:
Série Harry Potter
Se achavam que os mais jovens não eram capazes de ler livros
sem imagens e com mais de 50 páginas, estavam enganados. Numa geração
plenamente envolvida nas tecnologias a série Harry Potter provou que esta
categoria tinha um potencial assombroso, tornando-se também um dos maiores
sucessos de cross platform publishing,
liderando uma série de outros livros que viraram mega-produções
cinematográficas (não falo de livros que viraram filmes, mas livros e filmes
nascidos de um mesmo projeto).
A Cabana (The Shack)
Se Tristam Shandy e
vários outros livros posteriores foram publicados em auto-edição (com sucesso),
isso não significou que alguma coisa tivesse mudado. Nem mudou quando Eragon saiu primeiro em auto-edição,
antes de ser publicado pela Knopf. Mas quando o livro canadiano de auto-edição A Cabana, de William P. Young chegou ao
top do NYT com mais de um milhão de livros vendidos, as coisas mudaram e percebeu-se
que não era obrigatório ter-se uma editora para alcançar o sucesso.
A Sangue Frio (In
Cold Blod)
Truman Capote tinha consciência de estar a fazer algo de
novo quando decidiu usar técnicas narrativas para contar uma história real,
fruto de um longo trabalho jornalístico. O modelo, que mistura competência de
escrita e realidade, tinha tudo para ser um sucesso. No fundo, nada é mais
incrível do que a realidade.
Dádivas do Mar (Gifts
from the Sea)
Se a auto-ajuda é o que é, muito se deve a Anne Morrow
Lindbergh, heroína da América, esposa do herói Charles Lindbergh e mãe do mais
famoso bebé raptado e assassinado da história da América. Com esse currículo,
Anne estava no lugar ideal para, junto à praia, pensar na vida e criar o
primeiro grande sucesso de auto-ajuda na história da edição.
His Family
Se hoje ninguém sabe quem foi Ernest C. Poole, é porque
alguma justiça se fez no mundo. Vencedor do Pulitzer no ano de 1918, mostrou ao
mundo que a qualidade e a originalidade não são argumentos para se ter sucesso
ou ganhar prémios importantes. Tendo derrotado autores como John dos Passos,
Hemingway, Faulkner, Fitzgerald ou Miller, Poole simplesmente plagiava o estilo
de autores consagrados, criando narrativas «simples» de ler e agradáveis ao
público (habituados a mais do mesmo). Desde então, o fenómeno nunca mais parou.
E não, o 50 Sombras de
Grey ainda não tem espaço para figurar neste grupo.
Nuno Seabra Lopes
Sem comentários:
Enviar um comentário