É neste contexto que merece uma
saudação muito especial a tese de doutoramento defendida no passado dia 7 de
Junho, por Flamarion Maués Pelúcio Silva, no âmbito do Programa de História
Social do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo. O autor desenvolveu um trabalho de grande
mérito, vivendo e convivendo em Portugal com cotados especialistas e
experientes protagonistas, a que acresceu inúmeras entrevistas, intervenção em
conferências, e a consulta extensa e intensa de documentação essencial para a
compreensão, enquadramento e obtenção de conclusões válidas sobre a matéria que
se propôs investigar.
A tese - Livros que tomam partido: a edição política em Portugal, 1968-80 - cuja
divulgação e reprodução total ou parcial, por qualquer meio convencional ou
electrónico, é permitida para fins de estudo e pesquisa desde que citada a
fonte, é assim resumida pelo seu autor:
O objetivo deste trabalho é analisar a atuação das editoras de
livros de caráter político em Portugal entre 1968 e 1980, a fim de verificar o
papel político, cultural e ideológico que desempenharam no processo de
transformações pelo qual passou o país nesse período. Para isso, busquei: a)
identificar as editoras que realizaram essas publicações e examinar as
vinculações políticas que tinham; b) realizar o recenseamento das obras de
caráter político publicadas no período em estudo; c) identificar as pessoas e
organizações responsáveis por essas editoras e publicações.
A partir dos dados levantados procuro entender como atuavam estes
editores, quais suas motivações políticas, ideológicas e empresariais, como
organizavam as editoras do ponto de vista intelectual e comercial, e qual o
peso das vinculações políticas na vida das editoras.
Em termos cronológicos, o período em foco começa em 1968, com o
afastamento por motivos de saúde de Salazar do poder e sua substituição por
Marcelo Caetano, e vai até 1980, com a formação do primeiro governo de direita
após o fim da ditadura em 25 de abril de 1974.
Uma síntese do trabalho mostra que existiram pelo menos 137 editoras que publicaram livros de
caráter político em Portugal entre 1968 e 1980, tendo editado cerca de
4.600 títulos políticos no período. Este trabalho apresenta estudos sintéticos
sobre 106 destas editoras.
Minha tese é que estas editoras conformaram o que podemos chamar
de edição política no país. Ao
realizar um trabalho editorial que vinculava de modo direto engajamento
político e ação editorial, estas editoras – e seus editores – atuaram com clara
intenção política de intervenção social, tornando-se sujeitos ativos no
processo político português no período final da ditadura e nos primeiros anos
de liberdade política.
Congratular Flamarion Silva e fazer votos para
que o exemplo deste amigo brasileiro sirva de incentivo aos investigadores
portugueses no domínio do livro e da leitura, constitui certamente a melhor
forma de celebrar a importância desta sua obra para a historiografia da edição
em Portugal.
Só temos que agradecer ao excelente trabalho e preocupação do «Flama» ao querer abordar uma parte importantíssima da edição portuguesa do período de revolução e transição democrática (que acabou por moldar a configuração editorial dos anos 90 e, de certa forma, a passagem para a fase de concentração).
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