Nas primeiras idas à Feira do Livro Infantil de Bolonha não nos preocupámos muito em procurar os editores portugueses. O objetivo era precisamente o contrário: ver novidades, outros modos de pensar e construir livros, descobrir novos editores e ilustradores.
Nessa altura, um dos stands mais concorridos e visitados por estudantes e leitores
era o das Éditions du Rouergue, editora francesa que durante os anos 90 abria caminho no mundo dos álbuns ilustrados e nos fazia correr para ver os livros novos. Uma verdadeira febre.
A certa altura, já não sei em que ano, reparámos pela primeira vez na presença de uma
ou duas editoras portuguesas. Não ficámos orgulhosos: meia dúzia de livros abandonados nas prateleiras, nem sequer um catálogo ou outro suporte de divulgação que fizesse parar. O mais grave — e estranho, quase absurdo — foi observar como os livros expostos nas prateleiras eram edições traduzidas de obras originais estrangeiras. Ou seja, nada de livros portugueses, originais nossos, que pudesse fazer sentido divulgar junto de outros editores, mas sim obras compradas lá fora e publicadas em Portugal.
Uma exceção sempre foi a presença da DGLB (agora DGLAB): desde que me lembro, a DGLB disponibilizou materiais de divulgação de qualidade, incluindo os apoios à tradução que felizmente continuam a existir (os programas da DGLB não fazem milagres no sentido de porem os editores de outros países a correr cegamente para o que se faz em Portugal, mas ajudam bastante, tornando menos arriscada a aposta em novos autores e ilustradores).
A presença do Planeta Tangerina na Feira de Bolonha fez-se de forma muito gradual: no ano em que editámos o primeiro livro, levámos um exemplar na mochila e arriscámos mostrá-lo a alguns editores com os quais nos identificávamos. Não marcámos reuniões, não conhecíamos ninguém: esperávamos que uma reunião acabasse e tentávamos a sorte, aproveitando os três minutos de intervalo para apresentar o livro (era apenas um e explicava-se muito rapidamente).
Nos anos seguintes, passámos a marcar reuniões com antecedência e a correr a feira, de stand em stand, com uma mala cheia de livros: Toc, toc, podemos entrar?. Terminada a reunião, corríamos pelos corredores alcatifados, fazendo rodar a mala a toda a velocidade, porque a feira é gigante e muitas vezes as editoras estão afastadas centenas de metros umas das outras.
Em 2010, a convite da editora italiana Topipittori, partilhámos um stand na Feira: um dos pequenos, para dois pequenos editores. No ano seguinte, repetimos a fórmula, desta vez três, partilhando um stand um pouco maior (a editora Notari juntou-se a nós). Fomos os 3 caballeros, cada um de sua nação, mas com preocupações em comum, entre elas a necessidade de partilhar custos.
No próximo ano, 2013, estaremos pela primeira vez em Bolonha com um stand individual, mas é provável que apostemos em idas apenas de 2 em 2 anos.
Porque ir a Bolonha de forma individual é caro, não tenhamos dúvidas: aos custos das viagens e hotéis, juntam-se os custos da inscrição, do aluguer do stand, dos transportes, do armazenamento dos livros. Em Bolonha, tudo se paga, até o transporte de uma caixa de um armazém para um stand!, e conseguir recuperar o investimento com vendas de direitos não é linear. É difícil, há muita concorrência, muita exigência, livros de todos os tempos e lugares a tentar chamar a atenção dos editores. Parece-me até que a falta de interesse generalizado entre alguns editores portugueses da área infantil em apostar na área internacional passa por aqui: investir na internacionalização tem custos altos, implica muitas horas de trabalho e o retorno não é um negócio milionário imediato, como tantas vezes se pretende.
Mas se é tão difícil e tão caro apostar na internacionalização, valerá mesmo a pena fazê-lo?
Ou, dito de uma forma mais direta: teremos nós alguma hipótese?
Nada é garantido quando se aposta, mas há alguns pontos em que deveríamos concentrar-nos quando decidimos participar em feiras como a de Bolonha:
O que faz sentido contar da nossa história?
O que temos de bom e diferente para divulgar?
Como podemos distinguir-nos das vagas de livros que todos os ano dão à costa?
Ou, em resumo: o que estamos afinal aqui a fazer?
Outra coisa a que podemos dedicar-nos é olhar para os outros países, para vermos como resolvem problemas comuns aos nossos. O caso dos franceses em Bolonha (e noutras feiras) pode ser um exemplo a ter em conta: os pequenos e médios editores partilham um espaço comum que é alugado através do BIEF — Bureau Internacional de l´Édition Française — um organismo que conta com o apoio do Ministério da Cultura, do Ministério dos Negócios Estrangeiros e da Organização Internacional da francofonia. A missão do BIEF é divulgar a edição francesa a nível internacional e uma das suas funções é precisamente planear e organizar a ida dos editores a feiras internacionais.
Porque não criar uma plataforma semelhante para apoiar os editores portugueses?
Penso que quem gosta de literatura infantil pode ajudar: que tal um crowdfunding para ajudar? Eu participaria!
ResponderEliminarAna Pedro