“Os livros infantis são mais fáceis de fazer, quatro ou cinco linhas e já está.” Esta é uma frase que escuto recorrentemente, quer na esfera profissional, quer na pessoal. A ideia (falsa) de que publicar um livro infantil é mais fácil do que os “outros” tem de ser desmistificada de uma vez por todas. Desenganem-se, pois, todos aqueles que alguma vez pensaram que editar um livro infantil é tarefa fácil. Se o rigor, que deve estar sempre presente na edição e preparação de qualquer obra, é essencial, nos livros infantis esse rigor não pode falhar nunca. Cada pormenor deve ser tratado como o mais importante do livro, e a revisão, a paginação e a harmonia entre todos os elementos têm de encontrar o caminho para a perfeição.
Viver no mundo editorial infantil é ser mais feliz, é nunca parar de sonhar com as histórias que nos abraçam, é nunca parar de pensar na melhor forma de “casar” autores, é nunca esgotar a vontade de aprender com os outros, é nunca deixar de lado a certeza de que estamos todos juntos a construir o futuro, é nunca esquecer que há um propósito maior do que o também necessário exercício comercial.
Citando Hegel: “Nada de importante no mundo foi feito sem paixão.” E eu acrescento que é a paixão pelos livros, pela leitura, pelos leitores e pelos nossos autores que nos faz a todos caminhar na procura daquilo que de melhor temos para oferecer aos outros. Editar um livro, seja infantil ou não, é sempre um ato de amor, é sempre uma entrega maior, é sempre um nervoso miudinho, é sempre uma vitória. Mas um livro infantil tem outro encanto na hora de folhear. E os nossos olhos brilham quando vemos mãos anónimas a desfrutar de livros em que passámos dias, semanas e meses a tornar realidade, para depois os deixarmos partir na procura de um novo ninho. A alegria que se desenha no rosto de uma criança é para nós certeza de que aquele livro já valeu a pena ter sido publicado.
Por isso é que eu digo sempre: ser editora de livros infantis é mesmo a melhor profissão do mundo. É ter a convicção de que estamos a trabalhar para os leitores do futuro e saber que mãos pequeninas (e outras já maiores) vão aprender a sentir o valor das letras e das imagens naquelas páginas de encantar. Quem tem a sorte de conhecer o mundo editorial infantil cedo se apercebe de que é um amor que durará para sempre, que é uma forma de estar na vida e que é um laço que nunca se desatará.
Carla Pinheiro, Editora de Infantil e juvenil da Dom Quixote (Grupo LeYa)
Às vezes, "quatro ou cinco linhas" de um livro infantil marcam-me mais (ainda hoje) do que trezentas páginas de um livro "de adultos". Há histórias e/ou ilustrações que guardamos connosco uma vida inteira.
ResponderEliminarGostei muito de ler o seu texto, citação de Hegel incluída.
Senti-me presente no seu comentário. Um abraço.
ResponderEliminarAinda que a imprensa não lhe dedique especial atenção, a literatura infantojuvenil começa a deixar de ser encarada como uma arte menor. Sinal da adesão dos portugueses a obras concebidas para essas faixas etárias é o facto de as editoras apostarem, a bom ritmo, na publicação de livros para crianças e jovens. Mais títulos (o que não implica necessariamente mais livros vendidos; apenas tiragens menores e uma maior rotatividade de títulos nos escaparates) e conteúdos cada vez mais ricos, é uma prática em crescendo. Além disso, a vitalidade desta área editorial constata-se, também, pela aposta em ilustradores qualificados.
ResponderEliminarA consciência de que os livros infantis (da autoria de novos autores, mas também com assinatura de grandes mestres da literatura) são o primeiro passo para aprimorar a cultura – com frutos a colher a médio/longo prazo –, tem vindo a estabelecer um crivo qualitativo cada vez mais apertado. Os exemplares colocados à venda vão deixando de apresentar conteúdos pobres e até estupidificantes. O resultado – comprovado num contacto atento com alguns dos muitos títulos que afloram nas livrarias – apresenta-se, regra geral, sob a forma de textos ricos, dinâmicos e adaptados ao desenvolvimento emocional das crianças e dos jovens.
Os bons livros são sempre difíceis de escrever (quer tenham 5 palavras, 5 linhas, 5 parágrafos ou...500 páginas!) e, nem sempre, encontram editores à sua altura! Felizmente, há uma Carla Pinheiro ( não só!...)!
ResponderEliminarQue grandes, grandes verdades! Muitas vezes a arte não está em escrever muito, mas em escrever pouco com as palavras certas. E isso é tão difícil!
ResponderEliminarÉ tão bom que existam pessoas assim: as nossas crianças agradecem e a sua opinião sobre a minha história: "Substantinopla" deixou-me muito feliz, apesar de não poder entrar nos planos da Dom Quixote para o próximo ano. Quem sabe o que o futuro me reserva, nunca se sabe. Adorei sobretudo, o que está espelhado neste seu texto, a sua sinceridade e do carinho que sobressai em cada palavra que escreve. Como escritor e escritor infantil, apoia-a em todas as linhas.
ResponderEliminarUm Feliz Natal Carla e muitos sucessos para 2013, ainda vamos falar sobre futuros projectos: tenho a certeza.
Escritor Pedro Jardim
Eu gostaria de escrever livros infantis! :)
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